1818-2018: o legado de Karl Marx ainda é controverso
Uma utopia para uma sociedade justa ou a base de regimes totalitários. O legado de Marx ainda hoje é amplamente discutido e não-consensual. Neste dia 5 de maio assinalam-se os 200 anos do seu nascimento.
Visão atenta
Karl Marx não foi só um mestre-pensador, era também um grande observador das dinâmicas sociais. As suas análises económicas são, ao mesmo tempo, descrições subtis de formas de vida modernas: sob a pressão da economia, "os homens são finalmente obrigados a encarar com olhos sóbrios […] suas relações recíprocas". Capitalismo e iluminismo, diz o filósofo, mantêm entre si uma relação discreta.
Inspiração vinda de França
Marx cresceu numa região vinícola. O Vale do Mosela, onde se situa sua cidade natal, Trier, é considerado uma das mais belas paisagens cultivadas da Alemanha. França não está distante. "Liberdade, igualdade, fraternidade", os grandes ideais da revolução de 1789, não tardaram a chegar a Trier.
Notas de zero euros vendidas por três euros
A cidade de Trier está em festa e descendentes do filósofo foram convidados para as celebrações do bicentenário do nascimento de Marx. O município criou também milhares de notas de 0 euros, com a cara de Marx, uma forma de representação da sua linha de pensamento de Marx. Este <i> souvenir</i> tem um custo de três euros. Será que Marx aprovaria?
Alma poética
Na juventude, Marx era um poeta altamente romântico. "Em torno de mim flui uma pulsão eterna, / eterno arrebatamento, eterna chama", diz um dos seus poemas. Os versos eram dedicados a Jenny von Westphalen e deram frutos: os dois jovens casaram-se em junho de 1843.
Amigo e financiador
Durante toda a vida, Marx teve problemas de dinheiro e a sua família estava sempre à beira da falência. Por isso, foi um feliz acaso, não só editorial mas também financeiro, ter encontrado, em meados da década de 1840, Friedrich Engels, filho rico e intelectual de um fabricante. Engels apoiava Marx regularmente.
Expropriar proprietários
Para impôr limites aos capitalistas é necessária uma "socialização dos meios de produção", escreveu Marx na sua principal obra, "O Capital". Aí o "invólucro capitalista" rebentará definitivamente. Depois, é preciso partir para o ataque contra os "exploradores": "Os expropriadores serão expropriados", prometia o filósofo.
"Não sou marxista"
Em nome de Marx, regimes totalitários tomaram o poder em diversas partes do mundo. Com recurso à violência, impuseram as doutrinas políticas que achavam encontrar nas suas obras. O próprio Marx parece ter previsto o desastre bem cedo. Não há provas concretas, mas há referências que o próprio terá dito: "Tudo o que sei é: não sou marxista."
Rumo a África
O Leste é "vermelho" também em África: Marx e Engels são celebrados na Etiópia. Com Lenin, eram vistos como garantia de um grande futuro, que o país lutaria para conquistar. Em nome desse futuro, a obra de Marx foi declarada doutrina infalível e aclamada pelas massas. Como em 1987, em Addis Abeba, durante o 13º aniversário da tomada do poder por Haile Mengistus.
"Bestial ou besta"?
Alguns anos após o colapso do comunismo na Alemanha, Marx "reaparece" em Berlim. Na <i>t-shirt</i> lê-se: "Eu disse-vos como mudar o mundo". Mas, na imagem, vê-se que ele tenta tirar algo do lixo. Numa Alemanha reunificada há quase 30 anos, ainda não há consenso em relação à figura de Karl Marx.
Da China para Trier: Marx sobre-humano
A China presenteou a cidade de Trier com uma imponente estátua de Marx com mais de quatro metros, da autoria do escultor chinês Wu Weishan, que pretende refletir a sabedoria do filósofo. Habitantes de Trier não têm uma opinião una em relação a esta oferta. "Nunca precisei dele [Marx]", disse uma cidadã. "Deixou um grande manifesto, isso é inquestionável", defende uma universitária.
Elogio final
"Trabalhadores do mundo inteiro, uni-vos", é talvez uma das frases mais conhecidas de Karl Marx. Foi o que o escultor Laurence Bradshaw gravou na lápide do filósofo. Marx morreu em 1883, aos 64 anos, em Londres, e está sepultado no cemitério de Highgate.