"Angola pisca cada vez mais os olhos aos Estados Unidos"
25 de janeiro de 2024O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, concluiu hoje (25/01) a sua visita a Angola como parte do seu périplo africano. Durante os encontros com o Presidente angolano, João Lourenço, e o homólogo, Téte António, foram discutidos temas cruciais para ambos os países, incluindo prosperidade, alterações climáticas, segurança alimentar e o projeto do Corredor do Lobito, financiado pelos EUA.
Blinken classificou Angola como "um parceiro confiável" e elogiou os esforços de João Lourenço na criação de um ambiente favorável aos negócios.
Em entrevista à DW, o analista político angolano David Sambango, diz que esta aproximação de Luanda a Washington fez com que Angola passasse a olhar mais para o Ocidente como um "parceiro” no âmbito da sua política externa. No entanto, considera o mesmo analista, isto não quer dizer que Angola tenha esquecido outras potências mundiais. Segundo ele, o "Governo angolano está a fazer um jogo de cintura muito grande no sentido de manter as suas relações com a Rússia e China”.
DW África: Qual a importância desta visita?
David Sambango (DS): É importante sublinhar que a Angola é um ator importante a nível da África Austral tendo em conta a sua posição geo-estratégica. Estamos a falar de um país que tem um dos melhores petróleos do mundo em termos de classificação e desenvolve uma relação com os Estados Unidos da América há mais de 30 anos.
Tendo em conta o projeto que Angola está a encabeçar, que é o Corredor de Lobito, que é um espaço muito importante em termos geopolítico e geoestratégico a nível da África Austral e que vai permitir a circulação não só de pessoas, mas também de importantes recursos naturais.
Há que ter em conta também o papel de Angola a nível da pacificação de vários conflitos que existem na região austral. Mas, de igual modo, é de considerar a mudança da cultura estratégica de Angola, sobretudo com a ascensão do Presidente João Lourenço que olha hoje para os Estados Unidos de América como um verdadeiro aliado. Angola está a piscar [os olhos] cada vez mais aos Estados Unidos da América.
É de lembrar, por exemplo, a última decisão de Angola de ter saído da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
DW África: Podemos então dizer que Washington é agora a prioridade de Angola face a outras potências como são, por exemplo, a Rússia ou a China?
DS: A "administração Lourenço” mostra sinais evidentes de que há um alinhamento muito forte aos Estados Unidos da América, o que faz com que haja uma alteração da cultura estratégica angolana, que outrora era muito avessa ao Ocidente. Hoje olha, por exemplo, o Ocidente como um dos parceiros a ter em conta no âmbito da política externa angolana. Isso não obsta a necessidade do Estado angolano também valorizar as relações estabelecidas pelos gigantes do sistema político internacional. Penso que o governo angolano está a fazer um jogo de cintura muito grande no sentido de manter as relações, quer com os Estados Unidos da América, com a Rússia, quer com a China.
DW África: A oposição angolana pediu ao secretário de Estado do norte-americano que pressione João Lourenço relativamente à realização das eleições autárquicas. A defesa da democracia e direitos humanos são questões que interessarão aos Estados Unidos debater com João Lourenço ou apenas mais aspetos económicos?
DS: É isso que nos parece. Parece que os Estados Unidos da América estão hoje muito mais interessados nas questões económicas, porque já não apontam muito para a necessidade do Estado angolano ampliar cada vez mais espaços de discussão sobre a vida política e económica do nosso país. Sobretudo a questão do respeito pelos Direitos Humanos e garantia pela liberdade de expressão e de informação no quadro da democracia.
DW África: Que temas deverão ficar de lado nestas discussões, mas que deviam na sua opinião ser abordados entre os dois governantes?
DS: Seria fundamental também o aumento das cédulas de dólares para permitir uma maior capacidade de compra de produtos a nível do mercado internacional para abastecer o estado angolano, apesar dessa defesa ferrenha da produção nacional.