Angola: Toxicodependentes à deriva em Malanje
29 de agosto de 2021Psicólogos estão convencidos de que há uma crise no atendimento à saúde mental na província angolana de Malanje. Adolescentes e jovens adultos de bairros periféricos consomem cada vez mais drogas caseiras, cujo nível de toxicidade é, por vezes, desconhecido.
Utilizam cada vez mais drogas como a bebida caseira conhecida por "Kimbombo" ou o destilado artesanal "água do chefe". Também têm sido consumidas substâncias com efeitos alucinogénicos, cannabis sativa – localmente conhecida como "Liamba" -, e até mesmo cocktails feitos com gasolina e combustível para aeronaves.
Segundo um dos jovens ouvidos pela DW África, que é dependente químico e está sem tratamento, o consumo de drogas gera problemas na sua socialização. O jovem sugere algumas explicações para a sua falta de controlo com estupefacientes.
"É para o Governo ver que estão a matar a juventude nesse vício. Em vez de darem emprego, deram outras coisas. Baixar o [preço do] arroz, não baixam. Então, vamos nos matar aqui para, pelo menos, eles estarem conscientes de que estão a matar", diz.
Desviar do bom caminho
Muitos toxicodependentes dizem que conheceram o vício muito cedo.
"Estou há 11 ou 12 anos nesse vício, mas nunca roubei", conta outro jovem. "Nunca tive confusão ou aleijei na rua, nunca", justifica-se.
A DW conversou com a mãe de um jovem toxicodependente, que considera que o consumo de drogas motiva outras escolhas que podem torná-los vulneráveis.
"Esta rua é uma lástima. Os meninos - a partir dos 14 até aos 22, 25 anos - estão mesmo na droga, bandidagem, prostituição, roubo", descreve.
Sem tratamento
A única unidade de saúde especializada no tratamento e reabilitação de dependentes químicos está encerrada há um ano. As dependências do Centro Comunitário de Saúde Mental, em Malanje, foram adaptadas para o tratamento de pessoas com Covid-19. O coordenador do centro comunitário, Cirilo Mendes, critica a paralisação dos tratamentos dedicados à saúde mental.
"Em todos estes sítios em que passo, encontro um, dois ou três casos. Mas no momento em que o centro estava a funcionar, ele [o toxicodependente] tinha a oportunidade de ir lá fazer consulta e havia melhoria", relata.
"Quer dizer, com o encerramento do centro, os casos aumentaram", considera.
O psicólogo acompanha de perto o drama de muitos pais e encarregados de educação. Só neste ano já testemunhou mais de 800 adolescentes em crises alucinatórias e delírios de perseguição.
"A média é muito elevada, [acima] daquilo que é o normal", avalia.
"Há alguns trabalhos aos domicílios que nós fizemos e grande parte destas solicitações está relacionada com utentes de drogas. E no alcoolismo, do ponto de vista da sua gravidade, são mais [casos de] pacientes com intoxicação alcoólica. Foi assustador porque grande parte dos consumidores eram adolescentes e jovens", conclui.