1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Angola: Toxicodependentes à deriva em Malanje

Nelson Camuto (Malanje)
29 de agosto de 2021

Única unidade de saúde especializada no tratamento de toxicodependentes está encerrada há um ano. Coordenador diz ter testemunhado mais de 800 casos de crises alucinatórias e delírios de perseguição só este ano.

https://p.dw.com/p/3zabv
Água do chefeFoto: Augusto Prata/DW

Psicólogos estão convencidos de que há uma crise no atendimento à saúde mental na província angolana de Malanje. Adolescentes e jovens adultos de bairros periféricos consomem cada vez mais drogas caseiras, cujo nível de toxicidade é, por vezes, desconhecido.

Utilizam cada vez mais drogas como a bebida caseira conhecida por "Kimbombo" ou o destilado artesanal "água do chefe". Também têm sido consumidas substâncias com efeitos alucinogénicos, cannabis sativa – localmente conhecida como "Liamba" -, e até mesmo cocktails feitos com gasolina e combustível para aeronaves.

Segundo um dos jovens ouvidos pela DW África, que é dependente químico e está sem tratamento, o consumo de drogas gera problemas na sua socialização. O jovem sugere algumas explicações para a sua falta de controlo com estupefacientes.

"É para o Governo ver que estão a matar a juventude nesse vício. Em vez de darem emprego, deram outras coisas. Baixar o [preço do] arroz, não baixam. Então, vamos nos matar aqui para, pelo menos, eles estarem conscientes de que estão a matar", diz.

Desviar do bom caminho

Muitos toxicodependentes dizem que conheceram o vício muito cedo.

"Estou há 11 ou 12 anos nesse vício, mas nunca roubei", conta outro jovem. "Nunca tive confusão ou aleijei na rua, nunca", justifica-se.

Angola | Drogenkonsum in der Provinz Malanje
Foto: Nelson Camuto/DW

A DW conversou com a mãe de um jovem toxicodependente, que considera que o consumo de drogas motiva outras escolhas que podem torná-los vulneráveis.

"Esta rua é uma lástima. Os meninos - a partir dos 14 até aos 22, 25 anos - estão mesmo na droga, bandidagem, prostituição, roubo", descreve. 

Sem tratamento

A única unidade de saúde especializada no tratamento e reabilitação de dependentes químicos está encerrada há um ano. As dependências do Centro Comunitário de Saúde Mental, em Malanje, foram adaptadas para o tratamento de pessoas com Covid-19. O coordenador do centro comunitário, Cirilo Mendes, critica a paralisação dos tratamentos dedicados à saúde mental.

"Em todos estes sítios em que passo, encontro um, dois ou três casos. Mas no momento em que o centro estava a funcionar, ele [o toxicodependente] tinha a oportunidade de ir lá fazer consulta e havia melhoria", relata.

"Quer dizer, com o encerramento do centro, os casos aumentaram", considera. 

O psicólogo acompanha de perto o drama de muitos pais e encarregados de educação. Só neste ano já testemunhou mais de 800 adolescentes em crises alucinatórias e delírios de perseguição.

"A média é muito elevada, [acima] daquilo que é o normal", avalia.

"Há alguns trabalhos aos domicílios que nós fizemos e grande parte destas solicitações está relacionada com utentes de drogas. E no alcoolismo, do ponto de vista da sua gravidade, são mais [casos de] pacientes com intoxicação alcoólica. Foi assustador porque grande parte dos consumidores eram adolescentes e jovens", conclui.

Angola: Superar dificuldades para tratar toxicodependentes