As areias de Inhambane: do artesanato à construção de casas
As areias do rio Mutamba são fundamentais para a subsistência de muitas famílias em Inhambane. As areias têm vários usos como o fabrico de tijolos ou vasos, mas esta exploração tem consequências ambientais e sociais.
Tudo começa aqui
O rio Mutamba, em Inhambane, é rico em areias escuras, que são aproveitadas para fabricar tijolos e outros produtos. Devido à crise e à falta de alternativas, centenas de habitantes da região têm encontrado aqui uma fonte de sobrevivência. Há também cada vez mais menores a trabalhar neste setor, que estão sujeitos a muitos perigos, como picadas de cobra.
Perigos ambientais
Muitas famílias têm recorrido ao rio Mutamba para conseguirem obter areia e vender nos estaleiros. Já se notam os efeitos da destruição da natureza, com buracos nas margens do rio. Getrudes Namburete, do Centro Terra Viva, é contra a atividade. E foi proibida a exploração sazonal há quatro anos - só quem tem licença pode explorar. Mas o problema continua e não há fiscalização neste setor.
Estaleiros
As areias extraídas do rio Mutamba são vendidas num estaleiro local. Um carro pequeno de caixa aberta carregado com areia custa 275 meticais, cerca de 4 euros. A exploração é feita mediante o pagamento de uma taxa anual de 1200 meticais (18 euros) na Direção Provincial dos Recursos Minerais e Energia.
O tijolo mais procurado
Os tijolos de Mutamba são os mais procurados pelas pessoas que querem construir residências. Os proprietários das estâncias turísticas da região também compram estes tijolos para construírem algumas infraestruturas. Quem não consegue comprar blocos nos estaleiros vive habitualmente em casas feitas com material precário. O preço de cada tijolo de Mutamba custa em média sete meticais (0,10 euros).
Negócio de família
José Vilankulo é natural do distrito de Jangamo. Ele e a mulher dedicam-se ao fabrico de tijolos para a construção de casas. Aprenderam a arte de fazer tijolos com familiares. Vilankulo conta que o negócio costumava ser rentável, mas nos últimos três anos tem havido menos clientes.
O forno tradicional
É possível fazer centenas de tijolos nestes fornos tradicionais. Nem todos têm fornos próprios. Por isso, muitas pessoas usam os fornos tradicionais de terceiros, a troco de dinheiro. Os custos eram elevados, mas os preços diminuíram com a crise económica dos últimos anos.
Desde 2000 a fazer tijolos na região
Benjamim Samissone vive na região há mais de 18 anos. Faz tijolos e queima. Vende a nível local e possui um forno próprio, já em fase de degradação. Arrenda também o forno a pessoas que querem queimar os seus tijolos. Por mês, produz em média cerca de 600 tijolos - atualmente emprega três trabalhadores sazonais.
"Deixei de estudar"
Há dois tipos de trabalhadores, os sazonais e os contratados. Os sazonais recebem 1,5 meticais por tijolo (2 cêntimos de euro). Os contratados têm um salário de 2 mil meticais por mês (30 euros). Armando Augusto, 20 anos, natural de Cumbana, é um trabalhador sazonal e está no setor há dois anos. Deixou o ensino no 8º ano do secundário, quando perdeu os pais. Aqui há muitos jovens como ele.
Problemas de transporte
Esta é uma carroça que costuma ser usada para transportar tijolos. Há poucos fornos na região e os tijolos têm de ser levados de um lado para o outro. Este é um dos meios de transporte usados para pequenas distâncias.
Construção de muros
Devido ao custo elevado do saco de cimento, muitas famílias têm recorrido aos tijolos de Mutamba para construírem muros nos seus quintais, embora também saia caro.
Vasos de Mutamba
A areia de Mutamba também é usada na produção de vasos. É um produto muito concorrido a nível nacional, seja por particulares ou por grandes hotéis. Cada vaso chega a custar 1500 meticais (22 euros).