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Aumentam casos de crianças acusadas de feitiçaria em Cabinda

Simão Lelo
4 de julho de 2023

A acusação de feitiçaria de que são alvo muitas crianças, que acabam por ser abandonadas, não é um problema novo em Angola, mas o aumento dos casos em Cabinda está a preocupar as autoridades locais.

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Imagem ilustrativaFoto: Simão Lelo/DW

"Tínhamos tirado comida da panela, por isso nos enxotaram. A mãe vive no Cabassango, quando nos expulsou, fomos morar na casa da nossa avó." Este relato é apenas um dos exemplos da situação que vivem muitas crianças em Cabinda, onde ultimamente tem sido frequente a acusação de feitiçaria, instrumentalização e abandono.

O aumento deste tipo de casos preocupa as autoridades, as organizações de direitos humanos e a comunidade religiosa.

Em Angola, há 1.899 crianças vítimas de trabalho infantil e violência doméstica, segundo dados divulgados recentemente na província do Bengo pela ministra da Ação Social, Família e Promoção da Mulher.

Aposta na prevenção

Em Cabinda, é frequente o registo de maus-tratos e de abandonos, facto que preocupa o Governo, que já prepara uma resposta e prevenção.

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Fátima Congo, secretária provincial da Ação Social, garante existir um plano para essa situação. "Estamos a trabalhar com a Administração Municipal de Buco-Zau que tem em construção um internato, que, quando terminar, teremos como abrigá-las para que fiquem ocupadas naquela localidade", adianta.

Neste momento, as instituições de caridade afetas à igreja católica e evangélica em Cabinda são as principais instituições que acolhem parte delas.

Matilde Ngola, coordenadora da congregação das Irmãs Mercedárias da Igreja Católica, reprova a atitude de certos pais e familiares que abandonam os filhos. "Quem coloca uma criança no mundo, deve ser o primeiro a se responsabilizar por ela", lembra.

Acusações infundadas

Em algumas partes de Angola, as crianças têm sido vítimas de acusações de bruxaria. O advogado tradicional José Casimiro acredita que o talento e o dom de certas crianças, faz com que muitas famílias as associem a bruxaria.

"Há crianças hoje que nascem com um certo talento, e este talento, para aquelas pessoas despercebidas na matéria, associam à bruxaria. E hoje é comum vermos seitas religiosas que estão a estragar a sociedade, isto não é nossa cultura", sublinha.

Marcelino Barros Capita, membro da sociedade civil, diz que estas e outras situações emergiram especialmente da República Democrática do Congo (RDC) "e acabam por chegar no nosso território de Cabinda e vai ganhando espaço cada vez mais", lamenta.

Várias crianças de Cabinda correm, assim, o risco de continuar a ser vítimas de violência e de discriminação por causa de acusações consideradas infundadas.

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