Beira: Reconstrução pós-ciclones só para edifícios públicos?
27 de fevereiro de 2024O Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones (GREPOC), sediado na Beira, diz ter recebido dos doadores cerca de 1,5 milhões de dólares para ajudar a reparar os danos causados pelas catástrofes naturais dos últimos anos.
No entanto, vários cidadãos da Beira ouvidos pela DW afirmam que continuam à espera dos auxílios prometidos.
Cidadãos vivem com dificuldades
Silvério Meque, uma das muitas pessoas afetadas pelo ciclone Idai, inscreveu-se para receber uma casa e, até agora, não recebeu qualquer benefício. "Nós tínhamos ouvido que seriam reconstruídas cerca de 300 mil casas, mas vamos ver e de 2019 até cá nem uma casa foi construída", acusa.
Meque refere que residentes de outros pontos da província de Sofala estarão a ser apoiados com valores monetários. Por isso, pede "ao Governo central que saiba que a Beira é uma parte do território nacional e não pode haver discriminação".
Fátima Colaço perdeu o seu negócio, uma mercearia, em 2019. Passou a sobreviver graças a pequenos biscates, que só chegam para cobrir despesas de alimentação. Não consegue reabilitar o lugar onde vive, mas foi inscrita para receber uma das dezenas de milhares de casas prometidas. Continua à espera dessa ajuda: "Apanho dinheiro só para comprar pão para as crianças. Faço biscates para comprar caril, mas a minha casa está estragada mesmo", conta.
Edifícios do Governo reabilitados
Enquanto isso, decorre a reabilitação de edifícios governamentais, alguns dos quais degradados muito antes do ciclone. É algo que cria descontentamento no seio dos habitantes da Beira que esperam as milhares de casas e de empresários que ficaram sem os seus negócios.
Luís Mandlate, diretor executivo do GREPOC, explica o porquê da priorização: "Só para dar alguns exemplos: se estivermos a olhar para um edifício do governo do distrito, é onde todos nós vamos quando precisamos de um documento. O Registo Civil, qualquer um de nós, seja à nascença, seja em caso de tristeza ou hábitos, tem que passar por lá para obter um documento. Praticamente serve a todos. O Hospital, quando estamos doentes, dirigimo-nos para lá. Escolas idem, os nossos filhos precisam de escolas para poderem estudar".
Ainda assim, o responsável garante que os privados não foram esquecidos e que as autoridades estão "a implementar o programa das subvenções equivalentes, que são donativos comparticipados pelos empresários".
Oportunidades para trabalhadores locais?
Na semana passada, terminou o processo de submissão de candidaturas para recrutar artesãos locais que vão engrossar o grupo de reabilitação de casas particulares.
Marcelino Manuel diz que espera para ver os resultados. O residente da Beira lembra que este recrutamento já aconteceu várias vezes, mas não houve avanços significativos.
"Estamos a desconfiar mesmo muito, porque não é possível que o processo não se tenha exercido em quatro ou cinco anos. No final deste ano temos eleições, isso pode ser uma coisa para aldrabar a população", alerta.