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PolíticaCabo Verde

Tarrafal: "Que nunca mais se fale de campos de concentração"

Lusa | Ariana Miranda
1 de maio de 2024

Os chefes de Estado de Cabo Verde, Guiné-Bissau e Portugal, que hoje celebraram os 50 anos da libertação dos presos políticos no Tarrafal, Cabo Verde, apontaram o antigo campo como exemplo daquilo que nunca mais se quer.

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Umaro Sissoco Embaló, José Maria Neves, Marcelo Rebelo de Sousa e Carlos João Ernesto dos Santos
Umaro Sissoco Embaló, José Maria Neves, Marcelo Rebelo de Sousa e Carlos João Ernesto dos Santos [da esquerda para a direita]Foto: Ariana Miranda/DW

Os presidentes de Portugal, Cabo Verde e Guiné-Bissau e o ministro da Defesa de Angola descerraram, ao início da tarde desta quarta-feira (01.05), uma placa que assinala os 50 anos da Libertação do Campo do Tarrafal. O momento marcou o arranque das cerimónias centrais que hoje decorrem na ilha de Santiago, Cabo Verde, e que unem quatro países oprimidos pela violência da ditadura colonial portuguesa.

O futuro nasce da união no passado, referiu José Maria Neves, Presidente cabo-verdiano, que evocou a revolução de 25 de Abril de 1974 para relembrar que "os povos de Portugal e das colónias estiveram na mesma trincheira" contra a ditadura portuguesa.

"Hoje são novos os desafios e horizontes, numa conjuntura mundial cada vez mais complicada", apontando como exemplo as vagas migratórias de quem foge da violência e de "novas prisões", acrescentou, apelando ao reforço da "democracia" com humanidade.

A democracia requer "cuidados permanentes" para que "nunca mais se fale de campos de concentração", concluiu.

Já o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, destacou que "o museu que se quer vivo para testemunhar o que não queremos que seja o presente, nem o futuro". Uma tarefa essencial, "sobretudo para os jovens de amanhã saberem aquilo que devem rejeitar, sempre: não há confusão possível entre opressão e liberdade, entre ditadura e democracia", realçou.

Chefes de Estado apontam Tarrafal como exemplo daquilo que nunca mais se quer
Chefes de Estado apontam Tarrafal como exemplo daquilo que nunca mais se querFoto: Ariana Miranda/DW

O antigo campo, hoje Museu da Resistência, foi preparado para receber as cerimónias centrais que evocam a resistência de mais de 500 pessoas que estiveram presas no "campo da morte lenta", símbolo da opressão e violência da ditadura colonial portuguesa.  

O chefe de Estado da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, prestou homenagem, no seu discurso, "inclinando-se" perante a memória dos presos políticos.

Da mesma forma, o ministro da Defesa de Angola, em representação do Presidente João Lourenço, enalteceu todas as iniciativas que destaquem a resistência ao regime colonial.

Luís Fonseca, antigo embaixador cabo-verdiano, secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) entre 2004 e 2008, usou da palavra como porta-voz dos presos políticos.

O ex-recluso 343 recordou um encarceramento que pretendia fazer desaparecer os ideais de liberdade, mas que produziu solidariedade, pensamento e até poesia e novas canções.

Pedro Martins, o prisioneiro mais jovem do Tarrafal

Da mesma forma, pediu que haja solidariedade para com a Palestina, numa alusão ao conflito na faixa de Gaza, considerando que a ofensiva de Israel parece colocar apenas como opções "o extermínio ou o exílio", de formas semelhantes às práticas da era colonial portuguesa.

As comemorações do dia contaram ainda com um concerto com Mário Lúcio (Cabo Verde), Teresa Salgueiro (Portugal), Paulo Flores (Angola) e Karyna Gomes (Guiné Bissau), com entrada livre.

36 pessoas morreram no Tarrafal

Mais de 500 pessoas que estiveram presas no "campo da morte lenta".

Um total de 36 pessoas não sobreviveu, a maioria, 32 mortos, eram portugueses que contestavam o regime fascista, presos na primeira fase do campo, entre 1936 e 1956.

O campo reabriu em 1962 com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, destinado a encarcerar anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde -- altura em que morreram dois angolanos e dois guineenses.

A libertação de quem se opunha ao Estado Novo aconteceu poucos dias depois de o regime fascista ter sido derrubado com a revolução do 25 de Abril de 1974 em Portugal.