"Calamidade": roupa e artigos usados muito procurados em Moçambique
As roupas usadas importadas, vulgarmente conhecidas por ‘‘calamidade’’, chegam principalmente da China, Alemanha, Inglaterra. Em Nampula, é um negócio em crescimento e autoridades fazem "vista grossa" a ilegalidades.
Calamidade: preferida pelo preço e variedade
Calamidade é o nome atribuído a artigos de segunda mão, isto é, usados. Milhares de cidadãos preferem produtos da calamidade. Não só pela qualidade, mas também pelos preços. Por exemplo, no mercado, um artigo de vestuário pode custar 10 meticais [cerca de €0,15], mas a qualidade varia. Isso faz com que se crie uma enchente de gente quando os fardos são abertos pelos revendedores.
Lojas especializadas no fornecimento de calamidade
Na província moçambicana de Nampula, existem muitos armazenistas que importam roupa usada. Um dos exemplos é a ADPP Vestuário Nampula, que, só na cidade capital do norte, possui três lojas onde vende vestuários aos revendedores.
Fardos de calamidade
O preço dos fardos varia devido ao peso, qualidade e quantidade. Em muitos armazéns, os fardos vão de cinco a sete mil meticais [entre €70-€100], outros podem chegar a custar 40 mil meticais [cerca de €570]. Os fardos podem conter roupa, mas também cobertores, calçado, entre outros - tudo calamidade.
Calamidade não é só roupa
Calamidade não se resume apenas a vestuário de segunda mão. Também há objetos “calamidade”: brinquedos e meios circulantes (motorizadas, bicicletas), entre outros. Quando se pretende agradar à pequenada, na calamidade existe muita e diversificada oferta, com preços que vão ao encontro do bolso dos clientes.
Calçado calamidade
Também há calçado calamidade à venda. Os preços vão de acordo com a qualidade e os tamanhos. Há muita preferência por calçado da calamidade porque, apesar de serem usados, quem compra diz que oferece ainda boa qualidade e durabilidade.
Pastas com segunda vida
Nas lojas, uma pasta simples, nova, tanto para passeio como para a escola, pode custar entre 400 a 1800 meticais [€6-€25]. Na calamidade é diferente. Com 200 meticais [cerca de €3] é possível encontrar artigos de qualidade incontestável, segundo os que optam por este tipo de artigos.
Bons cobertores
Alguns cidadãos apontam os cobertores e fronhas da calamidade como sendo os mais resistentes e de muita qualidade, comparativamente aos recém-fabricados. Os preços também são baixos. Com 250 meticais [cerca de €3,50] pode comprar-se um cobertor.
Proliferam mercados de calamidade
Na cidade de Nampula, não há regras para vender e ganhar dinheiro com a calamidade. Cada dia que passa, surgem novos mercados informais. Muitos nascem nas ruas e passeios da cidade. Até nas paragens há espaços, apesar de ilegais, para a comercialização de roupa - e com muita adesão.
Vendedores "assaltam" as ruas
Em quase todos os 18 bairros da cidade de Nampula, existem mercados que comercializam artigos de vestuário da calamidade. Mas há quem corra atrás do tempo e do cliente. "Sentar não dá dinheiro, mas sim correr atrás do cliente’’ como apontam os vendedores ambulantes que percorrem as ruas com os seus artigos.
Um novo "mercado" a nascer no Hospital
Devido à maior circulação e concentração populacional, está a nascer, aos poucos, e nos ‘‘olhos’’ das autoridades municipais e hospitalares, um novo mercado de calamidade no quintal de vedação do Hospital Central de Nampula, a maior unidade sanitária da região norte de Moçambique. Na parede, há uma grande exposição de roupa com destaque para cobertores, toalhas e fronhas.
Selecionar para atrair clientes nas ruas
Maurício Ossumane é vendedor de rua há mais de 10 anos. Aposta numa oferta personalizada: compra artigo por artigo e faz a sua seleção, para convencer o cliente. ‘‘Ganho dinheiro para a sobrevivência, apesar de não ser muito. Preocupo-me é com os marginais, que por vezes assaltam os nossos bens, como telefones celular’’. Vai continuar a apostar no negócio enquanto não tiver emprego fixo.
Locais de venda com péssimas condições de higiene
Nem todos os mercados têm condições para o comércio. Cavalaria, localizado no bairro de Carrupeia, é um dos maiores mercados de venda de roupa usada em Nampula, mas as condições, em alguns locais, deixam a desejar. Os tubos de água que sistematicamente rebentam criam um ambiente lamacento e de difícil convivência. Mas vendedores não consideram abandonar o local, devido ao sustento que dali tiram.