Presidência da Comissão da UA em disputa
9 de dezembro de 2016A ministra dos Negócios Estrangeiros do Quénia, Amina Mohamed, o político da oposição do Chade, Moussa Faki Mahamat, e o senegalês Abdoulaye Bathily, atual representante especial das Nações Unidas para a África Central, estão entre os candidatos ao cargo mais alto da União Africana (UA).
O Senegal pediu apoio de Cabo Verde para o seu candidato, segundo a Panapress. O pedido consta de uma mensagem do Presidente senegalês, Macky Sall, ao seu homólogo cabo-verdiano, entregue esta semana pela ministra senegalesa do Turismo e Transportes, Moinouna Ndoye Seck, na Cidade da Praia. Esta recordou que a candidatura de Bathily é uma candidatura da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), da qual Cabo Verde faz parte.
Os outros dois nomes da lista, Agapito Mba Mokuy, da Guiné Equatorial, e Pelonomi Venson-Moitoi, do Botswana, foram rejeitados pelos líderes africanos. Não obtiveram a necessária maioria de 2/3 durante a última cimeira da União Africana que decorreu em julho, em Kigali, no Ruanda.
O tempo para a decisão está a esgotar-se. A atual presidente da comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma, deixa o cargo em janeiro, depois de recusar um segundo mandato.
Amina Mohamed é a favorita
A ministra dos Negócios Estrangeiros do Quénia é tida como uma forte candidata, aponta Andrew Weir, vice-editor da revista Africa Confidential. Segundo ele, "o apoio que Amina Mohamed tem depende dos esforços diplomáticos que o Quénia tem feito. E o Quénia tem-se esforçado. Tem pedido favores para que os países membros apoiem a sua candidatura" e finaliza: "Imagino, por exemplo, que o Quênia tenha feito grandes promessas aos países para apoiarem a candidatura de Amina Mohamed.”
O Quénia já provou a sua influência na União Africana, por exemplo, com o lobby contra o Tribunal Penal Internacional (TPI). O país já ameaçou várias vezes abandonar o TPI, sobretudo devido aos processos que decorreram contra o Presidente e o vice-presidente.
No entanto, o TPI viria a decidir, em 2014, pelo arquivamento das acusações de crimes contra a humanidade contra o chefe de Estado Uhuru Kenyatta. E este ano, o tribunal anulou também as acusações de envolvimento em crimes contra a humanidade que pendiam sobre o vice-presidente William Ruto. Em causa estavam os episódios de violência em 2007 e 2008 depois das eleições, que causaram mais de 1300 mortos e 600 mil deslocados.
O TPI tem sido, aliás, muito criticado por vários países africanos que já ameaçaram e decidiram abandonar o tribunal. No entanto, caso o Quénia venha a encabeçar a União Africana, Andrew Weir, vice-editor da revista Africa Confidential, não acredita que isso se venha a refletir num maior afastamento em relação ao TPI.
Tradicional disputa entre anglófonos e francófonos
Andrew Weir recorda que "a Gâmbia, Burundi e África do Sul prometeram sair mas o Quénia não se juntou a esses países de imediato. O Governo de Uhuru Kenyatta já ameaçou por três vezes sair do TPI, a medida foi discutida no parlamento, mas sem resultados. A questão do TPI não está na agenda do Quénia, por agora, porque os processos contra Uhuru Kenyatta e William Ruto foram encerrados.”
Tradicionalmente, a presidência da União Africana varia entre países anglófonos e francófonos. Em 2012, a sul-africana Dlamini-Zuma substituiu Jean Ping, do Gabão - francófono. Se este princípio continuar a ser tido em conta, os candidatos do Chade e do Senegal teriam vantagem. No entanto, vários analistas duvidam que este sistema rotativo seja um fator decisivo para a escolha do novo líder.
Depois do debate desta sexta-feira (09.12.), os Estados-membros elegem o novo líder da União Africana na próxima cimeira em janeiro.