Caricaturista angolano diz que foi censurado
16 de março de 2016Estaria tudo a postos para a inauguração da exposição de caricaturas e cartoons de Nelson Paim - o caricaturista diz ter combinado tudo com a direção da escola Ngola Kiluinji, em Luanda. Na segunda-feira (14.03), a mostra de caricaturas de dirigentes angolanos e cartoons, integrada no projeto "Arte na Escola", abriria ao público. Estava também prevista a realização de um workshop. Mas ambos os eventos foram cancelados à última hora.
Paim diz que a direção da escola o informou que as "caricaturas são desenhos usados em manifestações contra o Estado".
A escola terá ficado com os panfletos sobre a exposição: "Nós gastámos dinheiro para fazer os panfletos e a escola está na posse deles até agora". O caricaturista diz que ainda tentou convencer os responsáveis da escola a alterar a decisão, mas não foi bem sucedido.
Nelson Paim, que também faz caricaturas para o portal de informação Rede Angola, considera que, no país, a crítica e sátira a figuras políticas continuam a não ser vistas com bons olhos, sobretudo quando visam o Presidente José Eduardo dos Santos.
"Por ser um Presidente é crime fazer uma caricatura ou um cartoon, porque acham que o Presidente não tem sentido de humor. Muitos pensam assim", afirma Nelson Paim.
"Esquecem-se que o Presidente é um ser humano como outro qualquer e também tem sentido de humor. Por exemplo, o ex-Presidente do Brasil, Lula da Silva, coleciona as caricaturas e os cartoons que são feitos para ele e considera que é um privilégio ser ilustrado."
Escola pede esclarecimentos
Contactado pela DW África, o coordenador da escola Ngola Kiluanji não confirmou a versão apresentada pelo cartoonista.
Orlando Paulo diz que o evento foi cancelado porque, antes da abertura oficial da exposição, algumas pessoas foram ao local exibindo camisolas relacionadas com o julgamento dos 17 jovens que estão a ser julgados na capital angolana por alegada tentativa de rebelião contra o Presidente da República.
"Pedimos [ao caricaturista] que viesse esclarecer devidamente" a situação, informou o coordenador.