COP16 aborda migração forçada e insegurança
12 de dezembro de 2024De acordo com a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), cerca de 40% das terras agrícolas do mundo já estão degradadas e este número aumenta todos os anos.
A terra não é apenas um meio de subsistência - é a alma das pessoas, carrega as suas histórias, sonhos e esperanças, disse o chefe da UNCCD, Ibrahim Thiaw, na abertura das conversações da COP16 sobre a desertificação na capitak saudita, Riade.
No entanto, o solo fértil que outrora os sustentava está a tornar-se estéril, incapaz de suportar as colheitas ou saciar a sede do gado, segundo especialistas, que afirmam que esta perda não é apenas uma tragédia ambiental - obriga milhões de pessoas a procurar refúgio noutros locais.
De acordo com o Presidente da COP16, Abderrahman Al-Fadhli, as secas e a degradação dos solos estão a alimentar não só a migração rural e transfronteiriça, mas também os conflitos. Al-Fadhli diz que "uma grande parte dos conflitos relacionados com os recursos e as instabilidades políticas estão associados à degradação dos solos e à perda de recursos, o que está a provocar migrações".
"Estas migrações ocorrem das zonas rurais para as cidades, ou através das fronteiras, em grande parte devido às secas e à degradação dos solos”, conta.
Migração como solução
No norte do Quénia, as famílias estão a deixar as suas aldeias, abandonando casas em ruínas e campos rachados por campos improvisados ou cidades sobrelotadas.
Esta realidade é particularmente evidente no condado queniano de Marsabit, onde a socióloga e economista Julia Fuelscher, especialista em adaptação, presta apoio aos mais vulneráveis: "Muitas migrações são originárias de Marsabit e Turkana para Nairobi. Alguns chegam mesmo a deixar o país em direção a Riade, que atrai os quenianos devido ao facto de o seu ambiente estar mais de acordo com a sua fé e necessidades”.
Uma das ilustrações mais impressionantes das consequências da degradação dos solos pode ser encontrada na bacia do Lago Chade, onde mais de 6 milhões de pessoas irão sofrer de escassez de alimentos nos próximos meses "devido aos conflitos e aos efeitos das alterações climáticas”, de acordo com estimativas humanitárias citadas pela Cruz Vermelha.
Outrora vasto, o Lago Chade perdeu 90% da sua área em poucas décadas. Nesta região, a seca e a degradação dos solos não só provocam a deslocação das populações, como também agravam outras crises, segundo Balarabe Abbas Lawal, Ministro do Ambiente da Nigéria.
"Temos casos muito graves na região do deserto do Sahara. Vou dar-vos um exemplo claro: O Lago Chade, que é partilhado por países como a Nigéria, o Chade, os Camarões e o Níger. Este lago está quase seco, restando menos de 9% da sua área original”, disse.
Para Lawal é um evidência a não ignorar: "Isto ilustra perfeitamente a degradação dos solos de que estamos a falar. Se visitarem o local, verão que o ecossistema foi completamente destruído”.
Falta de financiamento é um entrave
O Norte da Nigéria, outrora fértil, permitia aos habitantes viver da pesca, da agricultura e de outras atividades. Atualmente, as secas recorrentes e a degradação dos solos deixaram-nos sem nada.
Confrontado com estes desafios, o chefe da UNCCD, Ibrahim Thiaw, apelou a uma maior mobilização financeira para a recuperação de terras, a produção agrícola, a segurança alimentar e a redução das migrações e dos conflitos.
Iniciativas como a Grande Muralha Verde, que visa restaurar milhões de hectares de terras degradadas em África, demonstram que é possível inverter a tendência e manter as populações nas suas localidades.
No entanto, estes projetos requerem um maior financiamento, que ainda tarda em concretizar-se. A COP16, que está a decorrer na Arábia Saudita desde 2 de dezembro, termina esta sexta-feira (13.12).