1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

COP29: "África pode sair sem nada"

Eddy Micah Jr. | com agências | af
22 de novembro de 2024

17 das 20 nações mais vulneráveis às alterações climáticas estão em África. Esperança de progressos na COP29 está a desvanecer-se, pois vontade política e financiamento são escassos, dizem participantes à DW.

https://p.dw.com/p/4nIyU
COP29 Klimakonferenz
Foto: Rafiq Maqbool/AP Photo/picture alliance

Termina, esta sexta-feira (22.11), a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP29), que decorre desde o dia 11 de novembro, em Bakur, no Azerbaijão. O evento, pelo menos da perspetiva africana, decorre sob uma nuvem crescente de desilusão.

Os negociadores estão a tentar aproximar as posições entre o mundo em desenvolvimento, que diz serem necessários 1,2 mil milhões de euros para o financiamento climático e as nações mais ricas, que, até agora, apenas admitiram dar poucas centenas de milhões.

O continente africano é um dos mais afetados pelas mudanças climáticas. Dos 20 países mais vulneráveis às alterações climáticas, 17 estão em África.

Na COP29, o continente pretende estabelecer uma nova meta de financiamento climático, excedendo os 100 mil milhões de dólares prometidos anteriormente.

Vários líderes e cidadãos africanos estão a erguer as suas vozes mais alto do que nunca, exigindo responsabilidade e medidas concretas para combater a crise climática. No entanto, vários cidadãos ouvidos pela DW dizem-se insatisfeitos e salientam que as promessas feitas até aqui não passem disso mesmo - promessas.

Na opinião de Dan Kaburu, residente de Nairobi, no Quénia, "esta COP29 não trará nada de novo, assim como aconteceu com as anteriores".

COP29, Baku
17 das 20 nações mais vulneráveis ao clima estão em ÁfricaFoto: Sean Gallup/Getty Images

"Há muitas promessas, mas não há muito para mostrar”, afirma Kaburu, acrescentando que "todos os anos, as grandes potências mudam as metas”.

Angella Phiri, do Malawi, diz-se frustrada: "Precisamos de resultados tangíveis, porque para já há muito pouco em termos de resultados”.

Wezzie Banda, também do Malawi, diz que "é preciso um comprometimento financeiro dos países desenvolvidos que possa ajudar o Malawi a financiar projetos de adaptação e mitigação climática”.

O togolês, Sena Alouko, também a participar na cimeira de Bakur, nota que os países mais poluidores "não se querem comprometer”. "Não querem pagar as contribuições e estão a tentar atrasar qualquer tipo de negociações”, diz.

"África pode sair sem nada"

Zeynab Wandati, editora de sustentabilidade e clima do Nation Media Group, com sede em Nairobi, no Quénia, tem acompanhado a COP29 em Baku, no Azerbaijão, com uma esperança comedida.

Wandati destacou o fundo de perdas e danos criado em 2022 na COP27 em Sharm el-Sheikh, no Egito, como um marco importante. No entanto, acrescenta que este ainda carece de financiamento substancial.

"O grupo africano não está muito satisfeito com a forma como as coisas estão a decorrer na COP29, porque dizem que é muito provável que a África possa ficar sem nada”.

À lupa: O que atrai África à COP29?

Para já, o primeiro texto de acordo divulgado, esta quinta-feira (21.11), pela presidência da COP29, não apresenta valores de compensações para os países em desenvolvimento fazerem a transição para a energia limpa. O facto chocou muitos países participantes da cimeira, que rejeitaram o documento.

O texto deixava de fora um ponto crucial: quanto pagarão as nações ricas aos países pobres. No documento, o valor mínimo dos doadores estava preenchido apenas por um "X", já que os países ricos ainda não fizeram uma oferta nas negociações.

Participantes desapontados

O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou os negociadores da cimeira de Bakur a fazerem um "grande esforço" para chegar a um acordo, avisando que "o fracasso não é uma opção".

"Sejamos francos. Ainda existem muitas diferenças significativas", disse Guterres aos jornalistas.

Susana Muhamad, ministra do Meio Ambiente da Colômbia, é da opinião que "se deve encontrar uma solução conjunta, porque, honestamente, precisamos de parar de brincar de geopolítica com a vida das pessoas dos nossos países.”

Também Diego Pacheco, negociador-chefe da Bolívia sublinhou: "vivemos num mundo de cabeça para baixo, onde os arquitetos da destruição da mudança climática nos países desenvolvidos desviam as suas responsabilidades para o Sul Global.”

Por sua vez, o enviado climático da UE à conferência, Wopke Hoekstra, classificou o projeto como "desequilibrado, impraticável e inaceitável", posição a que os Estados Unidos se juntaram.

"Estamos, francamente, profundamente preocupados com o flagrante desequilíbrio do texto neste momento", disse John Podesta, que representa a administração de Joe Biden na COP29.

Em comunicado, a presidência da COP29, representada por Mukhtar Babayev, sublinhou que os projetos "não são finais".

As mudanças climáticas podem influenciar o sentido de voto?