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Crise em Moçambique: Eurodeputada exige "coerência" à UE

18 de dezembro de 2024

O candidato presidencial Venâncio Mondlane diz que a Europa não está a dar a atenção devida à crise pós-eleitoral em Moçambique. Deputada ouvida pela DW concorda: "Sinceramente, estou a tentar perceber esta indiferença."

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Sede do Parlamento Europeu em Estrasburgo
"Eu gostava de ver uma maior coerência, tendo em conta o tratamento que a Europa dá a outros temas", apela a eurodeputada Ana Vasconcelos MartinsFoto: Daniel Kalker/picture alliance

O candidato presidencial Venâncio Mondlane foi recebido hoje, virtualmente, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, a convite do grupo político europeu Renovar a Europa, que inclui o partido português Iniciativa Liberal. Na agenda: A crise pós-eleitoral em Moçambique.

Mondlane acusou a União Europeia (UE) de marginalizar a situação no país: queixou-se que os moçambicanos estão entregues a sua sorte e que a situação não está a ter a devida atenção dos 27.

O homem que está a mandar em Moçambique, convocando protestos contra a "fraude eleitoral", revelou ainda que foi contactado hoje pelo Presidente Filipe Nyusi "no sentido de antecipar os próximos passos até ver os resultados do Conselho Constitucional sobre as eleições".

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Em entrevista à DW, a eurodeputada Ana Vasconcelos Martins, da Iniciativa Liberal, conta o que mais esteve em cima da mesa durante a videoconferência com Venâncio Mondlane, em que também participaram representantes da Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (MOE UE) às eleições gerais moçambicanas de 9 de outubro.

DW África: Porque quis o Renovar a Europa conversar com o candidato presidencial Venâncio Mondlane?

Ana Vasconcelos Martins (AVM): Sobretudo, queríamos perceber da perspetiva de Venâncio Mondlane o que se está a passar no terreno – qual é a sua posição e como vê a situação em Moçambique neste momento. Ele salientou que este é um problema histórico no país, que é recorrente. A grande diferença é que as pessoas estão há dois meses a protestar, e o descontentamento é crescente.

Candidato presidencial moçambicano Venâncio Mondlane
Em Estrasburgo, por videoconferência, Venâncio Mondlane lamentou que os moçambicanos estejam "entregues à sua sorte"Foto: Alfredo Zuniga/AFP

Venâncio Mondlane disse-nos ainda que foi contactado pelo Presidente da República para antecipar os próximos passos até à decisão do Conselho Constitucional sobre os resultados das eleições, [que está prevista para a próxima segunda-feira, 23 de dezembro]. Aliás, esta foi a primeira vez que Venâncio Mondlane foi contactado por Filipe Nyusi. Ele também nos falou sobre organizações não-governamentais e países terceiros que estão a tentar ajudar a resolver [a crise política], e até que ponto a União Europeia está a tentar mediar. Falou-nos ainda sobre a interferência de atores que tentam tirar partido do conflito ou agravá-lo.

DW África: O que espera Venâncio Mondlane da União Europeia? Ele disse?

AVM: Espera mais atenção. Contrastou até com a atenção que a União Europeia dá à Venezuela e não dá a Moçambique. Disse que os moçambicanos se sentem entregues à sua sorte e que não estão a ter atenção internacional, sobretudo da parte da Europa e mais concretamente de Portugal, com exceção de parlamentares de duas bancadas, incluindo o nosso partido Iniciativa Liberal. No nosso caso, fizemos inclusivamente uma resolução para que Portugal não reconhecesse o resultado das eleições, mas há uma distância da parte de Portugal.

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DW África: Venâncio Mondlane revelou algum facto novo para a vossa equipa?

AVM: Foram revelados alguns detalhes que vão além do que é genericamente sabido, mas, em geral, são dados já conhecidos do público.

DW África: Como deputada, que avaliação faz do tratamento que a União Europeia está a dar ao caso de Moçambique? É o mais ajustado?

AVM: Gostava de ver uma maior coerência, tendo em conta o tratamento que a Europa dá a outros temas. Em relação ao contraste [apresentado por Venâncio Mondlane, é verdade que] a Venezuela é um tema muito forte e estamos muito satisfeitos que tenha tido a atenção que teve da parte da União Europeia e em particular do Parlamento Europeu, mas esta é uma situação [em Moçambique] que está a escalar. Há um estado de guerra civil iminente e a ação da União Europeia pode ter impacto para travar o agravamento da situação.

Portanto, não estar a dar a importância que dá a outros casos é, de facto, uma falha da União Europeia. E, da minha parte e da parte da Iniciativa Liberal, cá estaremos para insistir que –  desde o nosso grupo ao Parlamento Europeu e à Comissão Europeia – seja dada maior atenção a esta situação para impedir que se agrave, porque já são muitas décadas em que os moçambicanos lutam por um estado de Direito, para decidir sobre quem os governa legitimamente e decidir sobre o futuro da sua nação.

DW África: A seu ver, a que se deve essa indiferença?

AVM: Eu partilho a mesma questão. Sinceramente, também estou a tentar perceber. Isso também parte de quem tem possa ter uma maior ligação histórica e possa chamar mais a atenção para a situação. Nós faremos a nossa parte, seria desejável que outros portugueses também o fizessem, para chamar a atenção sobre esta situação.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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