As empresas de transporte rodoviário interprovincial, que fazem as ligação entre o sul e o norte de Moçambique, estão agastadas com os frequentes ataques que se verificam no centro do país. Somam prejuízos enormes, desde vítimas humanas até danos materiais. Os ataques são protagonizados por homens armados, alegadamente a mando da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição.
Assim, há cada vez menos moçambicanos que arriscam viajar nos dias que correm. Um autocarro que transportava em média 70 passageiros, agora transporta menos de metade.
"As pessoas não vêm com muita afluência, não se ganha como se ganhava antes. Os bilhetes não são vendidos da mesma forma. Existem muitas pessoas que querem viajar mas estão com medo", afirma Artur Daniel, motorista que opera no troço entre Maputo, no sul do país, e Chimoio, na província central de Manica.
O receio de ataques paralisa não só o quotidiano de cidadãos individuais como o ritmo das empresas: "há grandes comerciantes que querem mandar os seus produtos mas temem os acontecimentos, pois pode ocorrer uma situação em que os produtos podem ser abatidos. Então as pessoas não querem viajar por causa da situação que está a ocorrer", acrescenta Artur Daniel.
Pior ainda poderá ser o negócio dos camionistas de carga. São poucos que chegam ao norte do Rio Save, centro de Moçambique, para abastecer as cidades com diversos produtos.
"As pessoas têm de estar em condições de sair de casa, de poder aceder aos demais serviços como à escola, hospitais. Quer dizer, o transporte tem que levar a esses locais e, neste momento, não há esta ligação", conta Alfredo Magaia.
Prejuízos sobem
Normalmente, é neste período do ano que se regista um pico de viajantes, sobretudo devido à aproximação das férias escolares, ao regresso dos mineiros moçambicanos da África do Sul e também à chegada de turistas que pretendem disfrutar das diversas praias no país. No entanto, este ano, está a abrandar o transporte de passageiros.
O presidente da Associação dos Transportadores Interprovinciais, Amotrans, Eugénio Filimone, mostra-se preocupado, com a atual "situação bastante delicada", lembrando que perto de 10 autocarros já foram atacados.
"Este é um período em que realmente [por norma] temos tido uma compensação do resto do ano, em que apanhamos sempre prejuízos. Mas agora a aproximarmo-nos deste fim de ano, vai depender. Se a situação se intensificar, eu acredito que serão poucos os que se vão aventurar [a viajar]", diz Eugénio Filimone.
Medo sacode empresas estrangeiras
Os transportadores estrangeiros que operam em Moçambique já abandonaram o país devido a intransitabilidade no troço Muxúnguè-Rio Save.
"Temos aqui mais de cinco, seis empresas e já não fazem esta carreira que nós fazemos. Estão à espera de melhores tempos. Portanto, isso às vezes choca-nos, porque nós estamos a arriscar as nossas vidas e os nossos carros", desabafa o presidente da Amotrans.
Os transportadores chegaram a ameaçar paralisar as suas atividades. Mas Eugénio Filimone considera que essa não é a solução ideal para o problema. Opinião partilhada por Adolfo Chiziane. "Batemo-nos de um lado para o outro, ficamos pendurados na estrada. Estamos a sofrer mesmo na estrada", descreve o transportador.
A tensão e a instabilidade político-militar, iniciada em abril, tem vindo a agravar-se nos últimos dias.