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Cólera e fome ameaçam Guiné-Bissau

Darame,Braima12 de julho de 2013

O governo não aceita falar de um surto de cólera sem ter em mãos "provas científicas". A UNICEF diz que a doença já matou 18 pessoas na região de Tombali, no sul. No terreno, o país depara-se também com ameaças de fome.

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A epidemia de cólera, que é frequente nas épocas chuvosas, a má campanha da venda da castanha de caju, que traz rendimento financeiro direto às populações, e a ameaça de fome no interior da Guiné-Bissau deixam o país numa situação de alerta máximo quanto ao futuro imediato.

Segundo um relatório de junho do Programa Alimentar Mundial (PAM), a má campanha de caju, principal produto de exportação, já está a deixar em penúria alimentar várias populações nas regiões mais pobres do país, pelo que o PAM está a preparar uma ajuda urgente para algumas das mais afetadas.

ONU apela para ajuda imediata

José Ramos-Horta, representante residente do secretário-geral da ONU, pediu uma intervenção imediata da comunidade internacional para salvar as vidas fortemente ameaçadas, perante a incapacidade do governo de transição da Guiné-Bissau de tomar medidas adequadas.

"O povo vive em grande penúria", afirma Ramos-Horta, explicando que "a segurança alimentar é extremamente precária. Não havendo ajuda imediata, mal as chuvas grandes atinjam o país, tornando intransitáveis uma parte das vias de comunicação, haverá fome".

Mas este não é o único problema, segundo o representante da ONU, que lembra ainda que "o setor de saúde está muito penalizado pelas sanções. Não há medicamentos, não há salários para os médicos e enfermeiros. Alguns recebem, mas muitos outros não".

Cólera já fez 18 mortos em 156 casos registados

Peritos dizem que, com um sistema próprio a funcionar, a Guiné-Bissau pode alimentar-se mesmo nos períodos em que a campanha da venda de caju enfrente problemas, apostando na agricultura. Mas fica dependente da ajuda externa, que faz baixar os preços dos produtos locais, diminui a produtividade agrícola no país e aumenta a dependência das populações.

Para complicar este quadro, já muito difícil, nos últimos meses, a cólera vitimou mortalmente 18 pessoas num total de 156 casos recenseados, anunciou o representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Abubacar Soltan.
 
"Infelizmente, agora, nós estamos num contexto que consideramos de emergência, porque estamos a enfrentar uma epidemia. A epidemia da cólera atinge este país ciclicamente todos os anos, pelas condições que o país apresenta. Os dados apontam para um alastramento", afirma o representante da UNICEF.

Em cada 100 pessoas doentes, mais de 11 morreram. Os dados indicam um aumento de casos nos setores já afetados e em novas áreas do sul do país. Abubacar Sultan lamenta que o quadro político-militar do país tenha tornado mais difícil o trabalho no terreno, mas salienta o empenho da sociedade civil guineense, alicerçado no apoio de organizações como a UNICEF e a Cruz Vermelha.

Prevenir para travar a epidemia

"É preciso que o resto do país se prepare para impedir essa propagação", avisa. "Em primeiro lugar, a nível do ambiente, devíamos iniciar um movimento massivo de limpeza para contrariar todos os impactos da época chuvosa, começando dentro de casa e partindo para o nosso bairro, a nossa banca, etc."

Num esforço para confinar a cólera e impedir que a doença alastre a outras regiões, o Comité Nacional de Gestão de Epidemias, de que a UNICEF faz parte, já ativou o comité regional no setor de Catió, sede da região de Tombali, no extremo sul do país, baseada no tratamento e conservação de água, na construção e uso de latrinas e na higiene individual e coletiva, com destaque para a lavagem das mãos.
 
Sob o lema 'Nô Stá Djuntu Contra a Cólera', um conjunto de medidas está a ser tomado a fim realizar ações e disseminar mensagens de prevenção por todo o país, com especial incidência nas áreas mais propensas à cólera, incluindo a região de Bissau, sul e ilhas.

As medidas incluem uma campanha de prevenção com a participação de 18 rádios comunitárias de todo o país e cinco rádios nacionais, bem como a realização de ações de sensibilização com grupos de jovens e organizações não-governamentais, com base em acordos de parceria que visam educar a população em práticas corretas de higiene e limpeza, que possam evitar a cólera e outras doenças.