Deputado não se desculpará por sugerir “devolução” de colega
31 de janeiro de 2020Uma assembleia extraordinária do LIVRE - concluída na madrugada desta sexta-feira (31.01) - não definiu se haverá a retirada da confiança política à deputada Joacine Moreira. Espera-se que a direção emita uma nota no decorrer do dia para esclarecer qual será o futuro de Joacine no partido.
Além da polémica dentro do LIVRE, a deputada de origem guineense concentra as atenções da crónica política portuguesa por outro episódio inusitado. O líder do partido CHEGA, André Ventura, disse que não vai pedir desculpas por ter sugerido que Joacine seja devolvida à Guiné-Bissau – país onde a parlamentar nasceu.
O episódio ocorreu na sequência de uma proposta do LIVRE, que pede a devolução a África das obras de arte mantidas em museus portugueses desde o período colonial.
Os líderes dos partidos da Assembleia da República de Portugal condenaram as declarações do deputado André Ventura, mas consideraram "desnecessária" a votação da "condenação formal" do deputado do CHEGA.
A publicação de Ventura no Facebook na última terça-feira (28.01) causou mal-estar no meio político português. A ministra da Justiça de Portugal, Francisca Eugénia Van Dunem, condenou às declarações de Ventura.
"Não poderia hoje não deixar uma nota condenação para o discurso xenófobo que começou a invadir os nossos espaços institucionais e que chegou ao Parlamento numa declaração que atingiu a deputada Joacine Katar Moreira, convidada a ir para a sua terra, como se esta não fosse a terra da deputada eleita pelo povo português”, condenou Van Dunem que nasceu em Luanda.
"Foi obviamente a linguagem utilizada, foi irónica. Só não percebeu quem quis criar uma polémica à volta disto. Não é nem nunca será a cor da deputada Joacine que está em causa. Diria o mesmo se fosse uma pessoa de cor branca ou de etnia cigana”, disse Ventura sobre o caso.
O partido LIVRE condenou as declarações de Ventura e salientou que os "ataques [a Joacine] e o uso de uma linguagem depreciativa e difamatória, perpetua estigmas racistas na sociedade portuguesa”.
O futuro de Joacine
A expectativa é que o comunicado a ser emitido pelo LIVRE nesta sexta-feira confirme uma tendência à retirada da confiança política à deputada Joacine Moreira. Horas antes da assembleia que foi concluída nesta sexta-feira, uma fonte próxima do partido dava como provável a decisão que deverá retirar confiança política à deputada.
Em causa está uma longa lista de acusações à deputada, nomeadamente de desrespeito e deslealdade para com o partido. Dias antes desta sessão extraordinária, Pedro Mendonça, do grupo de contato do LIVRE deu a entender, em nome da nova direção, que dificilmente o partido mudaria de posição.
"Falei à imprensa enquanto membro da direção cessante, dizendo que não tinha confiança política na deputada Joacine Katar Moreira. Ao nível da confiança política esta direção segue aquilo que a nova assembleia mandar, mas não acreditamos em milagres", disse.