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Dhlakamas discriminados na RENAMO: Conta o nome ou o mérito?

3 de julho de 2024

Os Dhlakama estarão a sofrer retaliações na RENAMO por não "abraçarem" Momade. Exemplo disso é que Elias e Óscar estão na cauda da lista de candidatos a deputados. Estarão na origem vinganças ou falta de mérito?

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Elias Dhlakama, deputado da RENAMO e irmão de Afonso Dhlakama
Elias Dhlakama, deputado da RENAMO e irmão de Afonso DhlakamaFoto: Sitói Lutxeque/DW

Para as eleições legislativas de outubro próximo, a RENAMO colocou os familiares de Afonso Dhlakama na cauda da lista de candidatos a deputados no Parlamento, para o círculo eleitoral de Sofala. Elias Dhlakama, irmão do falecido líder Afonso Dhlakama, está na 15ª posição, quando nas legislativas de 2019 estava em terceiro lugar.

Já o filho de Afonso, Óscar Dhlakama, que ocupa a última posição, parece ter caído de paraquedas à porta do Parlamento: "Eu não tenho informação de qual é a minha lista. Espero para saber qual é o meu lugar na lista neste momento. Eu já não sei se está a acontecer este tipo de problemas, eu não tenho conhecimento disso."

A situação é entendida por alguns setores como uma penalização aos Dhlakama por não terem apoiado o atual líder da RENAMO a eleger-se no VII Congresso e até por se terem oposto vivamente à sua continuidade na liderança, por suposta incapacidade.

O analista político Wilker Dias não tem dúvidas ao afirmar que "todos aqueles que se recusaram a apoiar a figura de Momade foram colocados de lado, como por exemplo Ivone Soares, que é membro da família".

"Tudo isso acabou trazendo influência nas escolhas de Ossufo Momade", conclui.

Afonso Dhlakama, falecido líder da RENAMO
Afonso Dhlakama, falecido líder da RENAMOFoto: Marcelino Mueia/DW

O que conta, o mérito ou o nome?

Porém, levanta-se outra questão: terão sido tais figuras relevantes para o partido e para a vida política do país, ou o nome é um "passaporte" que lhes permite aceder a posições cimeiras na liderança da maior força da oposição?

Antes de responder, Dias lembra que, no país, as pessoas servem-se dos nomes para acederem a algumas posições sem mérito. No entanto, há quem faça parte da nomenclatura por respeito e pelas suas mais-valias, exemplificando casos na FRELIMO, como Nyelete Mondlane e Graça Machel.

O que, no entender de Dias, não é o caso dos Dhlakamas em questão: "Nós não verificamos a figura de Elias Dhlakama ao longo desses quatro anos. Praticamente só ouvimos falar dele quando foi a altura de submissão de candidaturas à presidência do partido RENAMO. O que nos leva a crer que pode não haver mérito nestas reclamações, porque, de certa forma, ele não fez muito pelo partido, o que acabou influenciando para que, se calhar, fosse colocado lá em baixo."

"Mesmo a figura do Óscar, não o vimos apoiar Ossufo Momade de forma acesa nestes quatro anos. Então, tudo nos leva a crer que não há meritocracia", remata.

"Dhlakama morreu pobre e desgraçado pela RENAMO"

Quem sãos os Dhalakama na política?

São vários os Dhlakama que escolheram militar na RENAMO, um partido que se confundia com Afonso Dhlakama. As filhas Vânia Dhlakama, que parece pautar pela discrição, é membro da Assembleia Municipal da Matola, e Maria Dhlakama, guerrilheira desmobilizada. Óscar Dhlakama, filho mais velho e praticamente sem expressão política, é candidato a deputado, enquanto o irmão, Elias, é deputado que só se evidencia em época de eleições internas no partido.

De todos eles, há a destacar Ivone Soares, sobrinha, que recentemente afirmou aos microfones da DW: "Muitos consideram-me herdeira natural de Afonso Dhlakama por ter trabalhado ao longo dos últimos vinte anos próxima do meu tio. A minha família está ligada à política em Moçambique desde sempre. Não conheço uma realidade política senão a que venho bebendo na RENAMO desde tenra idade."

Neste contexto de aparente exclusão, os parentes de Afonso dizem não reconhecer a RENAMO de Afonso Dhlakama. O legado do "pai da democracia" está a ser marginalizado, diz o filho Óscar.

"Neste momento vejo que as ideias do meu pai no partido não estão a ser respeitadas, não estão a ser consideradas. Mesmo a família Dhlakama não está a ser respeitada neste momento", lamenta.

E há quem, por não se identificar com a nova linha partidária, prefira seguir as pegadas do lendário líder, usando outra camisola, a da CAD (Coligação Aliança Democrática), como é o caso de Bilal Sulay, outro dos filhos:

"Nasci da RENAMO. Eu nunca fui membro, um militante com cartão. E é tão óbvio que houve muitas circunstâncias lá dentro que me fizeram afastar."

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África