Diálogo com o Presidente? Oposição moçambicana de pé atrás
20 de novembro de 2024Diálogo, sim, mas para já não. É a posição da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), depois do chefe de Estado, Filipe Nyusi, ter proposto ontem (19.11) uma reunião com os quatro candidatos presidenciais para discutir a crise pós-eleitoral em Moçambique.
Em declarações à DW, Marcial Macome, porta-voz do maior partido da oposição na última legislatura, deixa claro que a RENAMO não tem qualquer intenção de participar nas conversações sugeridas por Nyusi, por ele ser o presidente da força política responsável pela instabilidade do país, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
"A RENAMO aguarda pelo pronunciamento do Conselho Constitucional. Havendo alguma possibilidade de sentar, esta deve acontecer depois do pronunciamento do Conselho Constitucional pela anulação do processo eleitoral", comenta Macome.
"A única coisa que o Presidente deveria fazer, na qualidade de comandante-chefe das Forças de Defesa e Segurança, é dar a ordem para que os polícias parem de atacar a população."
Há semanas que há protestos nas ruas, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane. Dezenas de manifestantes morreram. O porta-voz da RENAMO diz que, se o Presidente da República quer mesmo dialogar, deveria primeiro "sentar com a família de todos os que morreram em manifestações pacíficas."
PODEMOS: "O que vamos falar?"
O Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS), que apoiou a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, também não se mostra interessado em dialogar, para já.
À DW, o presidente do partido, Albino Forquilha, fez saber que uma conversa entre o Presidente da República e os partidos da oposição seria de louvar num país democrático, mas, na atual conjuntura política, isso não será possível: "Neste momento, a preocupação do povo moçambicano é ver a justiça eleitoral feita."
"A questão que se coloca é: Sobre o que vamos conversar nesse momento?", acrescenta.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane também já salientou, no passado, que está aberto para o diálogo, mas a "reposição da vontade popular" é a questão principal que deve ser resolvida em primeiro lugar.
O Conselho Constitucional ainda não se pronunciou sobre os recursos de contencioso eleitoral submetidos pelos partidos da oposição. Não se sabe quando o fará.
MDM admite diálogo, mediante condições
O presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) aparenta ter uma posição mais conciliadora.
À DW, Lutero Simango diz que é a favor do diálogo, mediante duas condições fundamentais: A conversação deve ser inclusiva e seguir diretrizes éticas. "O MDM sempre defendeu a inclusão. Por isso, se é um debate para discutir os problemas nacionais, deve ser inclusivo e também ter algumas premissas - honestidade, pontualidade, a maior abertura possível e discutir as causas e não as consequências", explica Simango.
"Como sabem, desde que iniciou essa situação, nós sempre defendemos que é preciso buscar as causas e garantir que haja justiça eleitoral." Isso significa, segundo o líder do MDM, recontar os votos ou anular as eleições de 9 de outubro.
A FRELIMO também já anunciou, em outubro, que o seu candidato presidencial, Daniel Chapo, está aberto para o diálogo. Chapo foi declarado vencedor pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) – um resultado contestado pela oposição.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) disponibilizou-se, entretanto, para facilitar o diálogo proposto pelo Presidente da República moçambicano.