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Gana vai a votos de olhos postos na recuperação económica

Isaac Kaledzi
5 de dezembro de 2024

Mais de 18 milhões de eleitores são chamados às urnas no sábado (07.12) para eleger o novo Presidente e Parlamento do país. Apesar da luta renhida, analistas esperam um rescaldo pacífico.

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Os candidatos às eleições presidenciais do Gana Mahamudu Bawumia e John Dramani Mahama
Mahamudu Bawumia e John Dramani Mahama encabeçam a corrida à PresidênciaFoto: NIPAH DENNIS/AFP/Getty Images | OLYMPIA DE MAISMONT/AFP

Mais de 18 milhões de pessoas estão registadas para escolher a 7 de dezembro quem será o novo Presidente que vai liderar o Gana nos próximos quatro anos. Há onze candidatos na corrida, mas dois destacam-se na frente: o atual vice-Presidente, Mahamdu Bawumia, do partido Novo Partido Patriótico (NPP, no poder), e John Dramani Mahama, do Congresso Nacional Democrático (NDC, na sigla em inglês), ex-chefe de Estado do Gana entre 2013 e 2017.

Esta é a terceira candidatura de Mahama à Presidência. Em 2016 e 2020 foi derrotado pelo Presidente cessante, Nana Akufo-Addo, que já cumpriu o máximo permitido de dois mandatos.

O número dois de Akufo-Addo, Bawumia, espera prolongar o domínio do partido no poder nas eleições deste ano.

Tudo a postos para as eleições

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) do Gana tem sido alvo de críticas de alguns partidos por alegada falta de transparência. No entanto, a presidente da comissão, Jean Mensa, garantiu que as eleições serão pacíficas e credíveis.

"Enquanto comissão, apraz-me notar que cumprimos o que prometemos em termos de paz, cientes do facto de que obter um resultado eleitoral pacífico depende das nossas ações", afirmou, acrescentando que a comissão levou a cabo as suas atividades de forma a garantir a paz antes, durante e depois das eleições.

Cordão policial perante apoiantes do NDC em protesto, empunhando cartazes contra a CNE
Em setembro, apoiantes do NDC saíram à rua para contestar o registo eleitoral, acusando a CNE de irregularidadesFoto: NIPAH DENNIS/AFP/Getty Images

Recentemente, a CNE gerou polémica quando decidiu limitar a monitorização dos meios de comunicação social da comparação dos resultados eleitorais. Entretanto, voltou atrás na decisão.

"Garanto que vamos continuar a aplicar estes ingredientes de transparência, capacidade de resposta e inclusão em todas as nossas atividades até ao dia das eleições e para além dele", afirmou Mensa.

Além do Presidente, os ganeses vão também eleger os 275 deputados do Parlamento, este sábado. A votação terá lugar em todo o país, em 40 mil mesas de voto, entre as 6h00 e as 17h00 locais.

O vencedor da eleição presidencial tem de garantir uma maioria de 50% mais um voto. Caso nenhum candidato alcance este resultado, haverá uma segunda volta.

Eleitorado desiludido

Os ganeses têm enormes expetativas para o vencedor das eleições. Muitos dizem-se desiludidos, muitas vezes devido a promessas de campanha não cumpridas.

"Nós só votamos. Eles continuam a ligar outras comunidades à eletricidade e deixam-nos de fora", queixa-se Abdullai Jamal, em Tamale, no norte do Gana. Ele e os seus vizinhos culpam os políticos pela falta de desenvolvimento da sua comunidade.

"Quem promete ligar-nos à rede de eletricidade ignora-nos depois de vencer as eleições. Foi por isso que decidimos não votar até vermos desenvolvimentos", diz.

Ibrahim, outro eleitor, está igualmente insatisfeito com a falta de eletricidade na sua comunidade de Savelugu. Em entrevista à DW, explica que os eleitores planeiam boicotar as eleições se a eletricidade não chegar à localidade: "Declarámos 'sem eletricidade, sem voto', porque não temos eletricidade, mas votamos".

Cartaz do candidato do NDC, John Mahama
O manifesto do NDC às eleições presidenciais foi lançado em agosto Foto: NIPAH DENNIS/AFP

Tomar os eleitores por garantidos

Observadores dizem que os políticos devem evitar tomar os eleitores por garantidos. "Na maior parte das vezes, o que interessa é o voto. Negligenciam as questões sistémicas que já existem ou então implementam ou encomendam projetos para mostrar que ainda estão com os eleitores", explica Ibrahim Mohammed Gadafi, analista político, em entrevista à DW. O especialista lembra que os eleitores têm a última palavra na eleição e que os políticos devem convencê-los com políticas adequadas.

Tanto Bawumia como Mahama centraram as suas campanhas na recuperação da economia do Gana, que se revelou um enorme desafio para o Governo de Akufo-Addo.

O Gana está a trabalhar com um programa gerido pelo Fundo Monetário Internacional para ajudar a restaurar a sua economia. Devido a anos de empréstimos acumulados, o país não pagou a maior parte da sua dívida externa, que ascende a 28 mil milhões de euros.

Inovação digital VS Economia de 24 horas

Bawumia, um economista e antigo dirigente do Banco Central do Gana, promete políticas de inovação digital como soluções-chace para os problemas económicos do país.

"A juventude precisa de empregos. Vou dar competências digitais a um milhão de jovens no Gana", prometeu Bawumia, num comício eleitoral na região de Volta, no sudeste do país. "Todos, mesmo que tenham abandonado a escola, podemos dar-vos competências digitais".

Mahama tem também apregoado a "política económica 24 horas" do seu partido, que, segundo ele, irá desbloquear o potencial económico do Gana, encorajando algumas empresas a funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana.

"Apesar do Presidente e vice-Presidente alegarem que criaram mais de 2 milhões de postos de trabalho, onde estão esses empregos?", perguntou aos seus apoiantes num dos comícios na região de Ahafo, classificando as promessas do seu adversário como mera retórica para ganhar votos. "É por isso que defendemos uma política de economia de 24 horas para criar novas oportunidades de emprego". 

Apoiantes do candidato do NPP, Mahamdu Bawumia, num comício em Takoradi
Mahamdu Bawumia é economista e foi vice-governador do Banco Central do GanaFoto: NIPAH DENNIS/AFP

Pacto de paz eleitoral

As eleições no Gana têm sido, no geral, pacíficas, e os observadores não esperem que isso mude este fim de semana.

A 30 de novembro, os candidatos presidenciais assinaram um acordo de paz, comprometendo-se a aceitar os resultados eleitorais.

"Esperamos que as deliberações aqui feitas nos facilitem a realização de eleições pacíficas no âmbito do Estado de direito e que nos permitam lançar uma nova fase de alteração das nossas constituições e de reforço das nossas instituições, através da construção de consensos", afirmou Emmanuel Akwettey, especialista em governação, durante a cerimónia de assinatura do pacto de paz.

Em setembro, o NDC, na oposição, liderado por Mahama, rejeitou os apelos à assinatura do acordo, invocando o facto de o Conselho Nacional de Paz não ter conseguido obter justiça para os apoiantes da oposição mortos durante as eleições de 2020. No entanto, a presença de Mahama na cerimónia de assinatura aliviou a tensão e foi saudada pelos analistas.

"Comprometo-me pessoalmente e com o meu partido a manter a paz no Gana. É melhor assumir este compromisso antes que as eleições não aconteçam ou sejam afetadas por causa de desconfiança e falta de sinceridade. Vamos trabalhar em conjunto para criar um ambiente propício a eleições livres, justas e pacíficas", afirmou Mahama.

Bawumia prometeu igualmente a paz: "A assinatura do pacto de paz presidencial de 2024 é profundamente significativa. Os riscos são sempre elevados, mas nunca virámos as costas à democracia, porque é o caminho que escolhemos para nós próprios e é o caminho certo a seguir. A minha esperança é que possamos sair destas eleições mais fortes como nação", disse o candidato do partido no poder.

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