Incêndio destrói redação de jornal em Maputo
24 de agosto de 2020Um incêndio atingiu a redação do semanário Canal de Moçambique na avenida Maguiguana, em Maputo, na noite deste domingo (23.08). O fogo teria começado durante a partida entre Bayern de Munique e Paris Sait-Germain pela Final da Champions League.
A redação do jornal está inutilizada. O fogo destruiu equipamentos de informática (computadores, impressoras e monitores), material de escritório, arquivos e vários móveis. Equipas do corpo de bombeiros trabalharam durante a noite para apagar o incêndio, e jornalistas e ativistas avaliaram os estragos ao longo da madrugada..
O coordenador do Centro de Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, passou parte da madrugada no local e classificou o incidente como "uma barbaridade”.
"Quando chegamos lá, aquilo parecia uma bomba de combustível que explodiu. Estava a cheirar combustível. Eles colocaram dois bidões de combustível, espalharam combustível e atearam fogo de longe. Fomos à esquadra buscar a polícia", relata Nuvunga.
Revolta e desabafos
Um sentimento de revolta tomou conta das redes sociais do jornal moçambicano. Fotos do que restou das instalações foram publicadas. O diretor Fernando Veloso também se manifestou via Facebook, falando em "bombas artesanais”.
Em comunicado à imprensa, os integrantes do CDD que estiveram no local dizem que a redação do jornal "mais crítico ao Governo da FRELIMO foi reduzida a cinzas".
A ONG lembra que o incêndio ocorreu quatro dias após o semanário publicar uma reportagem sobre alegado "tráfico de influência" e disputas da "elite política moçambicana pelo controle do negócio de marcação de combustíveis, estimado em 2,5 mil milhões de meticais [30 milhões de euros]".
O texto ressalta que o Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME) foi forçado a suspender o concurso que vencido por um consórcio. A anulação ocorreu depois da reclamação de duas empresas interessadas.
Na mesma nota, o CDD condena fortemente o que chama de "ataque às instalações do Canalmoz e Canal de Moçambique" e expressou solidariedade com os proprietários e trabalhadores das publicações. "Este ataque representa um grave golpe contra a liberdade de imprensa, um dos fundamentos básicos da democracia. Por esta razão, o CDD exige investigações sérias e profundas deste ataque contra a democracia", diz a nota.
Jornalistas do Canal de Moçambique foram à barra da justiça há algumas semanas depois de noticiarem um alegado acordo entre Estado e multinacionais para proteger trabalhadores dos ataques em Cabo Delgado. Com o título "O negócio da guerra em Cabo Delgado", o jornal estampou o suposto contrato entre empresas e dois ministérios.
Em dezembro de 2019, homens tentaram raptar o editor do semanário, Matias Guente, no bairro do Alto Maé. O grupo, que se fazia transportar numa viatura de marca Toyota Corola, estava armado e trazia também tacos de beisebol e de golfe, e teria seguido Matias Guente por algum tempo, tendo posteriormente tentado obrigar o jornalista a entrar no seu veículo. Na ocasião, Guente foi agredido, mas conseguiu fugir.