Jovens quenianos voltam às ruas para "recuperar o país"
8 de agosto de 2024Apesar de ser formado em multimédia, com especialização em televisão, o jovem de 24 anos Raphael Omondi nunca conseguiu um emprego na sua área.
"Sempre que me candidato a um emprego, ou não obtenho resposta ou dizem-me que o lugar foi preenchido por alguém com contactos. Isso não acontece só comigo, trata-se de toda uma geração que foi desiludida pelos nossos dirigentes", conta.
O jovem, que vive na capital, Nairobi, diz que é tempo de mudar. E promete: "Vamos recuperar o nosso país, o nosso Presidente tentou fazer as coisas bem feitas, mas não conseguiu. Por isso, queremos que ele se demita para que tenhamos um Governo que se preocupe connosco - um novo começo, custe o que custar."
Os protestos desta quinta-feira (08.08) foram convocados por uma coligação de grupos de jovens e organizações da sociedade civil. O movimento ganhou força com as redes sociais a desempenharem um papel crucial na mobilização de apoios.
Cansados de promessas vazias
Kasmuel McOure, de 27 anos, tornou-se uma das principais vozes do movimento de protesto, e diz que os jovens estão cansados de promessas vazias. O ativista critica a riqueza acumulada pelos ministros e governantes do país.
Que negócio é este que estão a fazer e que nós não conhecemos? Que mercados de ações são estes em que estão a investir e que estão a ir tão bem a ponto de ter ganhos de mais de 200 milhões [de xelins] em menos de dois anos, quando estamos a atravessar uma recessão?
Os organizadores apelaram a protestos pacíficos, o que não impediu que o Governo, mesmo assim, alertasse os quenianos para que se abstenham de manifestar.
Raphael Omondi não se deixa intimidar: "Não temos medo, o que está em causa é o nosso futuro. Se não nos erguermos agora, as coisas só vão piorar."
Desde junho, Quénia tem sido palco de manifestações, com repressão das autoridades, resultando na morte de pelo menos 50 pessoas.
Um projeto de orçamento que previa o aumento dos impostos sobre produtos de uso corrente gerou indignação no país dando origem aos protestos. O projeto acabou por ser retirado pelo Presidente William Ruto.