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Moçambique a meio-gás após validação das eleições

26 de dezembro de 2024

As cidades de Maputo e Matola permanecem em estado de paralisia desde a validação dos resultados eleitorais pelo Conselho Constitucional, no passado dia 23 de dezembro. Transportes e comércio cessaram atividades.

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Mosambik Maputo 2024 | Proteste nach Verkündung der Wahlergebnisse
Foto: Romeu da Silva/DW

Os protestos alastraram-se por vários bairros suburbanos de Maputo e da vizinha Matola, em Moçambique, imediatamente após o anúncio dos resultados pelo Conselho Constitucional. Desde então, várias lojas foram saqueadas, armazéns de produtos alimentares roubados e até bombas de combustível foram alvo da revolta popular.

Na Praça dos Combatentes, uma mulher, que preferiu manter o anonimato, descreveu o cenário de pilhagem:

"As pessoas que vi estavam a correr, partiram vidros. Vi tudo o que aconteceu. Levaram micro-ondas, televisores, camas. Isto não se faz, porque estão a causar destruição. Não pode ser assim."

Bomba de combustível destruída por populares em Maputo, Moçambique
Protestos violentos provocaram a destruição de várias infraestruturas em MaputoFoto: Romeu da Silva/DW

No bairro da Polana Caniço, os moradores ergueram barricadas para bloquear a circulação rodoviária.

"Estamos cansados, afinal, a democracia serve para quê? Não queremos mais a FRELIMO e vamos lutar", disse um manifestante. "Só queremos o melhor para o nosso país. Estamos fartos de guerras e de sangue. Chega", referiu outro.

Tragédia em Benfica

No bairro George Dimitrov, conhecido como Benfica, pelo menos 11 pessoas morreram carbonizadas num armazém de alimentos. Mido André, um jovem sobrevivente, relatou à STV, parceira da DW, o que aconteceu:

"Pensávamos que era só fumo de gás lacrimogéneo, mas afinal era um incêndio. Tentei salvar o meu sobrinho, mas ele já não conseguia respirar. Também tentei puxar uma rapariga, mas ela não resistiu."

Posto policial em Maputo foi alvo de fogo posto
Nem um posto policial escapou à ira dos manifestantes em MaputoFoto: Romeu da Silva/DW

Segundo Mido, a entrada no armazém terá sido autorizada pela polícia:

"Estávamos em casa e, quando saímos, vimos pessoas a levar coisas. Disseram que foi a polícia que autorizou a entrada. Havia agentes aqui, e alguns lançaram gás. Depois levaram dinheiro do cofre e outros bens."

Acusações de responsabilidade

Durante uma transmissão ao vivo esta quinta-feira, Venâncio Mondlane culpou a polícia pelos actos de vandalismo e pelas mortes:

"São os agentes da polícia que vão preparados para roubar lojas, incendiar bancos e arrombar armazéns. Viram as imagens: polícias a dizerem à população para entrar e buscar comida. O povo entra porque tem fome."

Loja vandalizada em Maputo
Manifestantes destruíram estabelecimentos comerciais na capital moçambicanaFoto: Romeu da Silva/DW

Por outro lado, o comandante-geral da polícia, Bernardino Rafael, classificou os manifestantes como criminosos:

"O que vimos foi o assalto ao complexo industrial da Matola, onde há todo o tipo de indústrias e armazéns. Aquilo foi obra de um bando de criminosos organizados. E isso torna-se incontrolável. Ontem, assistimos a mortes em armazéns."

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