Moçambique a meio-gás após validação das eleições
26 de dezembro de 2024Os protestos alastraram-se por vários bairros suburbanos de Maputo e da vizinha Matola, em Moçambique, imediatamente após o anúncio dos resultados pelo Conselho Constitucional. Desde então, várias lojas foram saqueadas, armazéns de produtos alimentares roubados e até bombas de combustível foram alvo da revolta popular.
Na Praça dos Combatentes, uma mulher, que preferiu manter o anonimato, descreveu o cenário de pilhagem:
"As pessoas que vi estavam a correr, partiram vidros. Vi tudo o que aconteceu. Levaram micro-ondas, televisores, camas. Isto não se faz, porque estão a causar destruição. Não pode ser assim."
No bairro da Polana Caniço, os moradores ergueram barricadas para bloquear a circulação rodoviária.
"Estamos cansados, afinal, a democracia serve para quê? Não queremos mais a FRELIMO e vamos lutar", disse um manifestante. "Só queremos o melhor para o nosso país. Estamos fartos de guerras e de sangue. Chega", referiu outro.
Tragédia em Benfica
No bairro George Dimitrov, conhecido como Benfica, pelo menos 11 pessoas morreram carbonizadas num armazém de alimentos. Mido André, um jovem sobrevivente, relatou à STV, parceira da DW, o que aconteceu:
"Pensávamos que era só fumo de gás lacrimogéneo, mas afinal era um incêndio. Tentei salvar o meu sobrinho, mas ele já não conseguia respirar. Também tentei puxar uma rapariga, mas ela não resistiu."
Segundo Mido, a entrada no armazém terá sido autorizada pela polícia:
"Estávamos em casa e, quando saímos, vimos pessoas a levar coisas. Disseram que foi a polícia que autorizou a entrada. Havia agentes aqui, e alguns lançaram gás. Depois levaram dinheiro do cofre e outros bens."
Acusações de responsabilidade
Durante uma transmissão ao vivo esta quinta-feira, Venâncio Mondlane culpou a polícia pelos actos de vandalismo e pelas mortes:
"São os agentes da polícia que vão preparados para roubar lojas, incendiar bancos e arrombar armazéns. Viram as imagens: polícias a dizerem à população para entrar e buscar comida. O povo entra porque tem fome."
Por outro lado, o comandante-geral da polícia, Bernardino Rafael, classificou os manifestantes como criminosos:
"O que vimos foi o assalto ao complexo industrial da Matola, onde há todo o tipo de indústrias e armazéns. Aquilo foi obra de um bando de criminosos organizados. E isso torna-se incontrolável. Ontem, assistimos a mortes em armazéns."