Mortes por cólera preocupam autoridades em Nampula
12 de dezembro de 2024A crise de água potável que se faz sentir no distrito de Mogovolas, a 70 quilómetros da capital provincial, Nampula, atormenta os mais de 40 mil residentes locais. Os moradores consomem água imprópria, partilhada com animais, extraída nas imediações do rio Meluli e noutros rios locais.
O consumo de água imprópria, devido à seca na região, é a principal causa do surto de cólera, que já provocou onze mortes. De acordo com as autoridades sanitárias, foram igualmente registados cerca de 257 casos desde a eclosão da doença, em novembro.
Os moradores contam que não têm muitas mais alternativas senão usar "água suja para beber".
"Saímos de casa, vamos ao rio e abrimos furos pequenos para extrair a água que a natureza nos dá, para poder consumir com as nossas famílias", explica António Joaquim, residente em Nametil, vila sede do distrito de Mogovolas.
Administração distrital reage
O administrador do distrito de Mogovolas, Emanuel Impissa, reconhece falhas no sistema de gestão e abastecimento de água naquele distrito.
Impissa garante, no entanto, que o executivo está a tentar minimizar o problema para reduzir os casos de cólera.
"Com o nosso parceiro, Arco Íris, acabámos por identificar alguns bairros críticos, onde já fizemos alguns furos". O administrador assegura que "dentro de dias" já haverá "pontos de água" para abastecimento da população.
Para melhorar a gestão e fornecimento de água, o diretor-geral da Administração Regional Águas do Norte (ARA-Norte), Carlitos Omar, promete assistência específica ao distrito de Mogovolas. "Estamos a trabalhar, sabemos que há a situação de cólera em Mogovolas", afirma. "Falta água, mas temos agora um tanque que pode ajudar a tratar a água e distribuir a população", informa.
Onda de desinformação
A onda de desinformação sobre a cólera é outro problema. Dezenas de moradores têm perseguido ativistas que disseminam informações sobre boas práticas contra a doença e distribuem purificadores de água. Os moradores acusam os ativistas de estar a propagar a doença.
"A onda de desinformação está em alta naquele distrito [Mogovolas]", lamenta o chefe do Departamento de Saúde Pública, Geraldino Avalinho.
O responsável diz que se trata de um surto controlável, mas que está a sair fora de controlo, por conta da onda de desinformação e não por causa das manifestações de protesto que se registam em várias partes de Moçambique.
Segundo Geraldino Avalinho, os moradores vandalizaram, por três vezes, o Centro de Tratamento da Cólera, tendo forçado a fuga dos pacientes.
As autoridades sanitárias na província de Nampula já dispõem de 10 mil frascos de purificador de água. Mas, segundo fontes do setor, há receios para a sua distribuição devido à instabilidade relacionada com a desinformação sobre a cólera.