Moçambique: Críticas no aniversário da nova polícia criminal
9 de janeiro de 2018Em Moçambique, o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) foi criado há um ano, em substituição da Polícia de Investigação Criminal. A ideia, com a reestruturação, era que o serviço tivesse maior autonomia administrativa, para combater melhor o crime.
Mas em Nampula, no norte do país, vários cidadãos dizem que pouco ou nada mudou desde a criação do órgão. Vêem inclusive os crimes contra políticos a aumentar, sem que sejam apanhados os responsáveis.
O cidadão Fernando Sabonete lamenta, por exemplo, que ainda não se tenha esclarecido o assassinato do autarca de Nampula, Mahamudo Amurane, em outubro passado. "Ainda não nos disseram nada", afirma. "Se o Governo já tem pistas de quem cometeu o crime, que nos diga. É preciso responsabilizar alguém".
Ricardino Vitorino, outro residente, concorda. "Em Nampula, no ano passado, tivemos alguns problemas no município e espero que o serviço [SERNIC] consiga esclarecer esse tipo de casos", diz.
Crimes por esclarecer
Há outros crimes por esclarecer. José Murevete, ex-membro da Assembleia Provincial de Nampula pela bancada da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO, maior partido da oposição), foi assassinado, por desconhecidos, em dezembro de 2016, na sua residência, no bairro de Mutauanha, na cidade de Nampula. José Naitale, outro membro sénior da RENAMO, foi assassinado dias depois a escassos metros da sua casa, no bairro de Namutequeliua, na mesma cidade. Mas o SERNIC ainda não conseguiu apurar quem esteve por trás destas mortes.
As autoridades não avançam, para já, números da criminalidade na província. Contudo, o diretor provincial do SERNIC de Nampula, Auzorio Arriaga, reconhece que a falta de meios financeiros, materiais e de recursos humanos prejudica a eficiência na investigação. Mas promete esclarecer todos os crimes.
"Para esses casos referenciados, estão em curso as investigações e em tempo útil nós vamos trazer [os criminosos]", assegurou Arriaga, que não avançou datas.
"Mudanças significativas"
Apesar de tudo, o diretor provincial do SERNIC de Nampula avalia positivamente o primeiro aniversário da sua instituição, dizendo que a autonomização do órgão representa uma evolução.
"Penso que há mudanças significativas para se ajustar à conjuntura [económica do país] e à globalização. O crime evoluiu, então, também temos de evoluir. Estamos num bom caminho até este momento".
Auzorio Arriaga pede aos cidadãos para ajudarem a denunciar os crimes. A polícia afirma que a colaboração com o serviço de investigação é boa. Zacarias Nacute, porta-voz da corporação, garante que "sempre que a polícia tem um caso e necessita de alguma investigação, o SERNIC faz o seu trabalho".
Os cidadãos insistem, no entanto, que esse trabalho tem de ser mais célere, para levar os criminosos à Justiça.