Moçambique: Wikipédia na língua nacional emakhuwa
19 de setembro de 2021Para os especialistas, a iniciativa de explorar o potencial da enciclopédia colaborativa digital de conhecimento livre Wikipédia para integrar conteúdos em emakhua, que já conta com mais de 100 artigos, é promissora. Mas pode enfrentar desafios de literacia e padronização da escrita.
O emakhua, a língua materna mais falada em Moçambique - com cerca de seis milhões de cultores - já é um instrumento de produção e difusão de informação e conhecimento na plataforma Wikipédia.
Primeira iniciativa em África Lusófona
A iniciativa, a primeira envolvendo as línguas locais de África lusófona, começou com a capacitação de mais de 70 redatores de conteúdos voluntários que dominam o emakhua, resultando na produção de perto de 100 artigos nesta língua.
O mentor do projeto em Moçambique, Jessemusse Cacinda, co-fundador e diretor da editora Ethale Publishing, explica, em emakhua, que este é um ponto de partida para a transformação das línguas moçambicanas em mecanismo de aproximação de culturas e identidades em África e no mundo.
"Começámos com o emakhuwa, mas não vamos parar por aqui. A ideia é avançar para outras línguas. Para isso, este movimento voluntário terá que crescer para termos mais pessoas interessadas em colocar conteúdos em diferentes línguas e em páginas também diferentes dentro do próprio Wikipédia", explicou.
O linguista Francisco Pedro, da Universidade Rovuma, destaca o carácter inovador da iniciativa e recorda que a promoção da literacia é fundamental para a garantia do acesso ao conhecimento disponível.
"Só tem acesso à informação quem está alfabetizado"
"É claro que só pode ter acesso à informação escrita quem está alfabetizado. Por isso, a iniciativa Wikipédia emakhua, coloca um grande desafio no que respeita ao alargamento e à dinamização do ensino das línguas moçambicanas, de modo que as populações estejam alfabetizadas nas suas línguas nativas e que, por conseguinte, possam aceder à informação", disse.
Palmira Revule, voluntária e produtora de conteúdos em emakhuwa, concorda com a existência de enormes desafios na execução do projeto.
Mas "estas dificuldades poderão ser ultrapassadas. Este programa, de uma ou de outra forma, vai criar um impacto positivo e nos ajudar a nutrir o amor, a paixão e o orgulho da nossa própria língua", disse ela.
O changana e cissena, outras das línguas mais faladas em Moçambique, depois do emakhuwa e o Português, poderão, também, ser integradas à iniciativa. Mas isso depende dos resultados da fase piloto do projeto.