Nyusi reitera que está aberto ao diálogo e condena ataques
26 de fevereiro de 2016Depois do aumento do número de confrontos entre forças governamentais e o maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o Presidente moçambicano voltou a mostrar-se disponível para o diálogo.
Na quarta-feira (24.02), o Conselho Nacional de Defesa e Segurança decidiu que devem ser criadas as condições necessárias para que se realize um encontro entre o Presidente moçambicano e Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, de modo a terminar com os ataques que se registam no país.
Dois dias depois, Filipe Nyusi volta a mostrar qual a sua posição em relação ao conflito, na cerimónia de graduação na Academia de Ciências Policiais, em Maputo, onde falava na qualidade de Comandante-Chefe das Forças de Defesa e Segurança. "Reiteramos a nossa abertura para o diálogo sem pré-condições, assente no estrito respeito pela ordem jurídica estabelecida no nosso país", disse o Presidente durante o seu discurso.
Filipe Nyusi condenou ainda os ataques atribuídos ao partido da oposição, sublinhando que os mesmos "perturbam a vida das pessoas e destroem propriedades, num claro atentado à paz, estabilidade, unidade nacional e democracia".
"Apelamos aos nossos compatriotas e a todos os nossos amigos: ninguém deve encorajar o porte de armas nem matanças ao povo moçambicano para forçar a sua ascensão ao poder ou sustentar as vontades individuais", reforçou o Presidente.
O chefe de Estado moçambicano disse ainda que a situação da perturbação da ordem subestima a vontade manifestada pelo Governo de dialogar com a direção da RENAMO e com todas as outras forças da sociedade para, juntos, encontrarem os caminhos que conduzam a uma paz duradoura, prometendo que o executivo "tudo fará para continuar a garantir a segurança da população, que deve dedicar a sua atenção ao desenvolvimento de Moçambique".
RENAMO mostra-se disponível para diálogo com "mediação séria"
De acordo com um comunicado distribuído à imprensa, a RENAMO volta a reforçar que só aceitará dialogar com o Governo se governar nas seis províncias onde reivindica a vitória nas eleições gerais de 2014.
"A RENAMO está disponível para dialogar com a FRELIMO, mas exige, em primeiro lugar, a governação das seis províncias onde ganhou as eleições, por conseguinte, todo o diálogo a ser feito no futuro deverá acontecer quando a RENAMO estiver a governar efetivamente naquelas províncias", pode ler-se no documento, que surge em resposta às declarações do Conselho Nacional de Defesa de Moçambique.
Na mesma nota, é feita referência ao pedido de ajuda na mediação do conflito feito pelo maior partido da oposição a Jacob Zuma, Presidente da África do Sul, e à Igreja Católica. "Para a RENAMO, um diálogo verdadeiro e sério só é possível se a FRELIMO aceitar uma mediação séria, posição já manifestada publicamente".
Ataques continuam
Moçambique vive uma crise política desde as eleições gerais de outubro de 2014, cujos resultados são contestados pela oposição. No seguimento desta crise, a RENAMO ameaça nomear à força Governadores nas seis províncias onde afirma ter ganho as eleições, a partir de março. Esta exigência é rejeitada pela FRELIMO, o partido no poder, que a considera inconstitucional.
Apesar do encontro entre os dois líderes no início de 2015, a violência política tem-se agravado nos últimos meses, com registo de vários ataques, raptos e assassinatos, com trocas de acusações mútuas entre FRELIMO e RENAMO, com o segundo maior partido da oposição a acusar o Governo de estar a investir na compra de material bélico, aumentando os níveis de desconfiança.O número de ataques nos últimos três dias subiu para cinco, depois dos ataques levados a cabo ontem (25.02) por homens armados da RENAMO, que dispararam contra viaturas civis nos dois troços da N1, a principal estrada de Moçambique. Desde 19 de fevereiro que já foram registados 19 incidentes, que provocaram duas mortes, de acordo com informações da polícia moçambicana.
Este é o pior conflito político em Moçambique desde que foi assinado o Acordo de Cessação de Hostilidades Militares, em setembro de 2014, entre o ex-Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama.