ONU dá luz verde à missão militar para o Mali
Os 15 Estados membros do Conselho de Segurança concederam um mandato inicial de um ano à força militar internacional. Tem autorização para tomar as medidas necessárias no sentido de ajudar o governo maliano a recuperar o controlo do norte do país, nas mãos de "grupos armados, extremistas e terroristas", segundo o Conselho.
Peritos militares e soldados da ONU trabalharam com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), com a União Africana (UA) e com as autoriadades malianas para o desenvolvimento da Missão Internacional de Liderança Africana para Apoio ao Mali (na sigla em inglês AFISMA).
A resolução prevê que se comece a estabilizar o Mali no plano político, através do estabelecimento de um roteiro para reabilitar a Constituição e realizar eleições até abril de 2013, e só posteriormente se passariam a ações ofensivas.
Antes de avançar para o norte, a força dos capacetes azuis, AFISMA, deverá ter um plano militar. Este plano será posteriormente submetido à aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O prazo para o início da operação militar está estimado para setembro ou outubro do próximo ano.
"Resolução histórica"
Em reação, Dioncounda Traoré, Presidente interino do Mali, disse que foi "um dia importante para o decorrer dos acontecimentos" no país. "Faremos a guerra contra os terroristas e vamos continuar a dialogar com os nossos irmãos que estão disponíveis para o diálogo", acrescentou Traoré.
Também satisfeito com a aprovação, Youssoufou Bamba, embaixador da Costa do Marfim, país que preside a CEDEAO, falou à rádio ONU numa "resolução histórica" porque: é "uma mensagem de solidariedade e mostra que não esquecemos o povo maliano. E queremos por isso agradecer ao Conselho de Segurança pelo elevado sentido de responsabilidade que demonstrou", justificou.
Em março passado, o Mali entrou numa situação caótica depois de um golpe de Estado que criou um vazio de poder e permitiu à etnia tuaregue, tradicionalmente marginalizada pelo governo, ocupar a região norte do país.
No entanto os próprios rebeldes tuaregues acabaram por ser expulsos por grupos islamistas ligados à rede terrorista internacional Al-Qaeda, que impuseram a lei islâmica. Calcula-se que dois terços do território maliano esteja ocupado por grupos rebeldes.
Críticas ao Mali
A resolução das Nações Unidas critica os militares do Mali pela sua ingerência no trabalho do governo de transição. Recorde-se que o primeiro-ministro maliano, Cheick Modibo Diarra, foi detido a 11 de dezembro, por militares e posteriormente demitiu-se. O fato desestabilizou ainda mais o país e pôs em causa a capacidade de as forças armadas malianas participarem no resgate do norte do território dominado por islamistas.
Por isso, Nestor Osório, presidente do Conselho de Segurança, em declarações à rádio ONU, afirmou que com o "sim" ao envio da força militar, aquele órgão das Nações Unidas tem uma mensagem "clara": todas as força no Mali devem unir-se para terem um diálogo compreensivo, inclusivo e que permita o estabelecimento da ordem constitucional", explicou.
Segundo estimativas da ONU cerca de 412 mil pessoas foram forçadas a abandonar o norte do Mali e aproximadamente cinco milhões de pessoas foram afetadas pelo conflito.
Autora: Carla Fernandes / AFP / DPA
Edição: Glória Sousa / António Rocha