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Direito e JustiçaBurkina Faso

Pedidos 30 anos de prisão por assassinato de Sankara

Lusa
8 de fevereiro de 2022

O Ministério Público militar do Burkina Faso pediu hoje 30 anos de prisão para o ex-presidente Blaise Compaoré, acusado de ter ordenado o assassínio do seu antecessor, Thomas Sankara, no golpe de Estado de 1987.

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As circunstâncias da morte de Thomas Sankara (dir.) foram mantidas em segredo durante o período em que Blaise Compaoré (esq.) esteve no poder
As circunstâncias da morte de Thomas Sankara (dir.) foram mantidas em segredo durante o período em que Blaise Compaoré (esq.) esteve no poder

Na sessão de hoje do julgamento, o Ministério Público militar pediu ao tribunal que declarasse Blaise Compaoré culpado de "ataque à segurança do Estado", "ocultação de um cadáver" e "cumplicidade no assassínio". 

Afastado do poder em 2014 após uma forte contestação nas ruas, Compaoré vive desde então na Costa do Marfim e é o grande ausente deste julgamento, tendo os seus advogados denunciado "um tribunal de exceção". 

A acusação pediu também 30 anos na prisão contra o comandante da sua guarda, Hyacinthe Kafando, que é suspeito de ter liderado o comando que matou Thomas Sankara e os seus colaboradores, em 15 de outubro de 1987.  Também Kafando, em fuga desde 2016, está ausente do julgamento. 

Para o general Gilbert Diendéré, um dos líderes do exército durante o golpe de 1987 e o principal arguido presente, a acusação pediu 20 anos na prisão, mas este já está a cumprir uma pena igual por uma tentativa de golpe de Estado em 2015. 

Várias penas de prisão - de três a 20 anos - foram também pedidas contra cinco arguidos e para outro 11 anos de pena suspensa. Finalmente, a acusação solicitou a absolvição, "por atos não constitucionais", para três arguidos e por "prescrição" dos crimes para outros dois.

A maioria dos acusados declarou-se inocente.

O general Gilbert Diendéré foi um dos que liderou o exército durante o golpe de 1987
O general Gilbert Diendéré foi um dos que liderou o exército durante o golpe de 1987Foto: Sam Mednick/AP Photo/picture alliance

Circunstâncias misteriosas

As circunstâncias da morte de Sankara foram mantidas em total segredo durante o período em que Blaise Compaoré esteve no poder e isso, só por si, faz aumentar as suspeitas sobre si.

Thomas Sankara, que chegou ao poder através de um golpe de Estado em 1983, foi morto com 12 dos seus companheiros por um comando durante uma reunião na sede do Conselho Nacional da Revolução (CNR) em Ouagadougou. Tinha 37 anos.

Deixou uma marca indelével em África, onde ficou conhecido com o "Che Guevara Africano", que queria "descolonizar as mentalidades" e perturbar a ordem mundial através da defesa dos pobres e oprimidos. 

Logo no ano seguinte à sua chegada ao poder, Sankara mudou o nome do país, numa tentativa de enterrar com as insígnias da República do Alto Volta a herança do poder colonial francês. O país de Sankara passou a chamar-se República Democrática e Popular do Burkina Faso, que significa "país do povo honesto".

Sankara é uma referência ainda muito presente junto dos burquinabês - foi citado pelo novo homem forte do país, Sandaogo Damiba, no seu primeiro discurso ao país - mas mantém igualmente um lugar de destaque no panteão dos ícones pan-africanos.

Thomas Sankara: o "Che Guevara" do Burkina Faso