Porque é que a internet móvel é tão cara em África?
16 de novembro de 2020A empresária e publicitária malawiana Tabu Kitta trabalha essencialmente com a Internet, mas é obrigada a passar dias sem conseguir acesso. No Malawi, a internet móvel é a mais cara de África, por isso Kitta é obrigada a racionalizar o uso.
"Num dia bom, compro um pacote de dados por três dólares americanos - mas nem sempre tenho dinheiro para isso". No total, Kitta estima que gasta cerca de 70 dólares por mês com internet. "O preço dos dados móveis é de fato um desafio para muitos malawianos", constata.
Mas os preços da internet representam um desafio para toda a África. Em média, os fornecedores africanos cobram 3,30 dólares (2,78 euros) por gigabyte. A informação é de um inquérito mundial realizado pelo fornecedor britânico de telecomunicações Cable UK.
A faixa de preços só é mais elevada no continente americano. No entanto, devido "aos rendimentos das famílias em África serem mais baixos, essa diferença é proporcionalmente muito maior", diz Martin Schaaper, especialista em telecomunicações das Nações Unidas.
Schaaper analisa com sua equipa a evolução no mercado das telecomunicações para a União Internacional de Telecomunicações (UIT) - uma agência especializada da ONU. Segundo seus estudos, os preços em África são muito mais elevados do que noutras partes do mundo, especialmente em comparação com os países industrializados.
"Na maioria dos casos, está a tornar-se mais barata em África, especialmente se olharmos para o preço dos dados em comparação com o rendimento nacional bruto per capita", constata.
O exemplo extremo do Malawi
O Malawi é um exemplo extremo sobre isso. De acordo com a Cable UK, um gigabyte de dados móveis custa uma média de 27,41 dólares americanos (23,10 euros). As Nações Unidas recomendam que esta quantidade de dados não custe mais de 2% do rendimento nacional bruto per capita, mas no Malawi chega a ser 87%.
Outros países que seguem esta disparidade são Benim e Chade. Também aí, a internet móvel é muitas vezes mais cara do que seria apropriado, dada a força económica do país.
Um fator de custo importante para os fornecedores é a infraestrutura. "Tiveram de passar de 2G para 3G, para 4G e agora 5G", diz Schaaper. "Isto requer investimentos constantes que têm de ser refinanciados. Além disso, em África, muitas regiões são de difícil acesso - é particularmente dispendioso criar ali infraestruturas.
Schaaper cita o número de concorrentes no mercado como outro fator importante: "Se houver apenas um ou dois fornecedores num país, eles têm pouco incentivo para baixar os preços".
Outro fator que poderá influenciar no preço é a política do país sobre o acesso à internet. "Será que o Governo reconhece os provedores? Quer tornar o acesso mais acessível para a população em geral e ajuda a desenvolver áreas remotas com infraestruturas? Isso varia de país para país", diz Martin Schaaper.
A Etiópia desempenha um certo papel especial, onde a telefonia-móvel está em mãos públicas e não é permitida a concorrência do setor privado à empresa estatal "Ethiotelecom".
Quem oferece comunicações móveis?
Também faz diferença quem é o fornecedor. Uma vez que as línguas das antigas potências coloniais são amplamente faladas em África, é fácil para empresas europeias como a Vodafone, Orange e Altice Portugal ou a Indian Airtel conquistar o mercado.
Grandes fornecedores africanos como a MTN da Nigéria ou a Telkom da África do Sul, entretanto, também se estabeleceram em muitos países do continente. "O seu tamanho dá-lhes uma vantagem", diz Schaaper.
"Eles têm o conhecimento, a infraestrutura de pessoal, modelos de preços comprovados. É mais fácil para eles entrar em mais um país", constata.
Contudo, isto poderia ter consequências negativas, por exemplo, se desembarcassem concorrentes locais mais pequenos: "Isto teria naturalmente um impacto negativo nos preços", diz Schaaper. Existem também restrições à concorrência em países que favorecem empresas estatais.
No Malawi, o Governo anunciou em agosto um primeiro passo para movimentar o mercado estagnado. O Presidente Lazarus Chakwera quer emitir uma licença de operação de terceiros ao lado da Airtel Malawi e da TNM. Isto se vincula à esperança de que os dados móveis se tornem finalmente mais acessíveis - para que pessoas como Tabu Kitta já não tenham de pensar se têm dinheiro para isso cada vez que tocam no seu smartphone.