O cantor angolano Bonga lança em novembro seu novo álbum
26 de outubro de 2016A "saudade” é uma das palavras mais presentes nas poesias de amor da língua portuguesa. E também o título de uma música brasileira que o cantor angolano Bonga traz para seu novo álbum: "Recados de Fora”. Pois, além de palavra, a saudade é o sentimento que o acompanha nos palcos dos continentes por onde tem passado, levando consigo as lembranças de Angola.
"Essa saudade está na alma, no mais profundo de nós próprios. Quando eu piso no palco, não estou a ver que estou em Nova Iorque, em Paris, ou em Londres; mas sim a representar o meu país, a minha tradição e a minha cultura”.
Aos 74 anos, a história de Bonga se entrelaça à história de seu país. A conhecida carreira musical de intervenção, que começa em 1972, ainda em Angola, para ele persiste apesar dos diferentes momentos históricos.
Críticas ao colonialismoO ícone da música angolana, nascido como José Adelino Barceló de Carvalho, foi forte crítico ao colonialismo português com canções de protesto no contexto das independências em África, em meados dos 70, e posteriormente ao seu próprio povo:
"Esses recados tem a ver com a continuidade de um artista, que é o Bonga, de intervenção sócio-política na minha terra. Por uma questão de coêrencia, eu disse aos meus patrícios de Angola que a Independência não foi para lutarmos irmão com irmão, mas sim enfrentarmos uma situação complicada porque temos petróleo, e com isso, os interesseiros vão para lá e mudam as diretrizes".
As primeiras canções de sua vida, ele aprendeu ainda na infância, com o pai pescador e também músico. Vivendo na Europa há mais de 30 anos, o cantor agora endereça recados aos angolanos com a publicação do novo álbum, que tem lançamento previsto para 04 de novembro.
Apesar dos diferentes momentos históricos, ele mantém-se crítico ao colonialismo e aos efeitos desse ainda hoje sentidos pelo povo africano. Por isso, as músicas que agora canta falam sobre diferentes tempos e continentes, mas com histórias que se passaram num mesmo lugar, num mesmo oceano:
"O oceano Atlântico fez com que as coisas transbordassem. De um lado, os escravos levados para outra margem. E, do outro lado, os que se vangloriaram como os descobridores - a 'super civilização' que nos educou, que nos transformou, mas que também nos pôs em perigo, a lutar uns com os outros”.
Influências
Como influências musicais, Bonga ouve do tango argentino às músicas de Ray Charles; mas para compor o novo álbum manteve-se fiel às suas raízes, aos ritmos de Angola. "São composições minhas, de música angolana, onde a base fundamental é o semba, com seu ritmo bem ritmado esfuziante. E ainda há aquela música 'nostalgicazinha', que o americano chama negro espiritual.”
A alegria e a melancolia que se alternam com as músicas de seu novo álbum, diz ele, tem a ver com a sua própria história de vida. Como seu último recado, o ícone da africanidade pós-colonial, termina por dizer que, para manter uma carreira musical de intervenção, é preciso mais do que apenas a música:
"Firmar a sua personalidade e não se alinhar em jogadas obscuras, complicadas, partidos, seitas, preconceitos. É preciso ter firmeza nos propósitos, e cada um dos propósitos alinhado com qualquer coisa que seja forte, que tenha povo atrás e que esteja conosco. A partir daí não temos medo. Vamos em frente”.