RENAMO: Ex-guerrilheiros anunciam fecho da sede do partido
20 de dezembro de 2024"Nós, desmobilizados da luta pela democracia, declaramos o encerramento da sede nacional do partido RENAMO até ordens contrárias", disse esta sexta-feira (20.12) à comunicação social João Machava, porta-voz do grupo, a partir da sede da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido de oposição em Moçambique, em Maputo.
O grupo, que contesta a liderança do atual presidente do partido, Ossufo Momade, exige a realização do Conselho Nacional para eleição de uma nova direção, sendo esta a terceira vez, em menos de um mês, que se junta na sede do partido para denunciar uma suposta violação de estatutos.
Segundo os antigos guerrilheiros, que já submeteram duas cartas de protesto, os resultados do partido nas últimas eleições revelam a alegada má gestão.
A RENAMO perdeu o estatuto da segunda força política mais votada nas eleições gerais de 09 de outubro, caso os resultados já anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) prevaleçam após o posicionamento do Conselho Constitucional (CC), última instância de recurso em contenciosos eleitorais.
"Parece que ninguém está interessado em perceber porque é que a RENAMO está a decrescer. Então, o que nós queremos agora é uma reflexão para analisar esses aspetos. O órgão que tem competência para tal, no intervalo entre os congressos, é Conselho Nacional", acrescentou Armindo Dimande, outro integrante do grupo, que também orientou os membros do partido a encerrarem todas as sedes provinciais e distritais a partir de sábado (21.12).
Contactado pela Lusa, o departamento de comunicação do partido prometeu uma posição oficial no sábado sobre o assunto.
Em 28 de novembro, o partido assumiu não ter datas para a realização do Conselho Nacional exigido pelos ex-guerrilheiros, apontando a falta de fundos e a proclamação dos resultados das eleições de 09 de outubro pelo Conselho Constitucional (CC), previsivelmente na segunda-feira, como condicionantes.
Ossufo Momade, cuja liderança já tinha sido questionada em momentos anteriores, assumiu a liderança da RENAMO após a morte do líder histórico e fundador do partido Afonso Dhlakama (1953-2018).
Momade também foi candidato nas eleições gerais de 09 de outubro de 2024 ao cargo de Presidente da República, obtendo, segundo os números da CNE, 5,81% dos votos, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido que foi principal força de oposição em Moçambique desde as primeiras eleições, 1994.
Daniel Chapo, apoiado pela FRELIMO, ficou com 70,67% dos votos, e Venâncio Mondlane, ex-deputado da RENAMO que abandonou o partido após desavenças com Momade, ficou em segundo lugar, com 20,32%, tendo, em terceiro, estado Lutero Simango, presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceiro partido parlamentar), com 223.066 votos (3,21%).
Durante 16 anos, Moçambique viveu uma guerra civil, que opôs o exército governamental e a RENAMO, tendo terminado com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, líder histórico da RENAMO, abrindo-se, assim, espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.