Revista de Imprensa: Moçambique, Mali, Argélia entre os países em destaque
3 de maio de 2013Moçambique é uma âncora da estabilidade, um símbolo de firmeza, tranquilidade" - foram estas as palavras com que o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle, descreveu o maior país lusófono em África. O jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, um dos diários mais influentes da Alemanha, critica as palavras do ministro, classificando-as de "duvidosas". O correspondente especialmente enviado a Maputo contrapõe, dizendo que Moçambique é um país com muitos problemas.
Moçambique: Guebuza não atende telefonemas de Dhlakama
Os cortes de luz são uma constante, num país em que muito se fala no futuro risonho, mas em que - no presente - não funcionam as coisas mais simples. Em Maputo nota-se um certo dinamismo - é certo - mas fora da capital reina a tristeza e o desespero. Além disso a intolerância política é cada vez mais notória. Quem não é membro da Frelimo - o todo poderoso partido no poder - não vai longe, muito menos quando pretende trabalhar na função pública, ou conquistar um posto no exército, na polícia ou no sistema judicial. Os últimos casos de violência e confrontos entre as autoridades e o maior partido de oposição, Renamo, mostram uma coisa: a oposição moçambicana não se sente respeitada. A guerra civil entre 1977 e 1992, que opôs os dois movimentos, está ainda nas mentes de muitos moçambicanos e até agora não foram digeridas as muitas atrocidades cometidas por ambas as partes. O antigo presidente Joaquim Chissano, histórico líder da Frelimo, sabia que era necessário manter o diálogo com a Renamo, apesar da larga, quase esmagadora, maioria que a Frelimo sempre teve na Assembleia da República de Moçambique. O atual Presidente Armando Guebuza é diferente: não dá importância ao diálogo com a Renamo e, segundo se diz, nem sequer atende chamadas telefónicas de Afonso Dhlakama.
Mali: Formação do Exército alemão beneficia apenas 30 soldados
Outro país africano em destaque na imprensa alemã é o Mali. Nesta semana começou, nomeadamente, a missão do exército alemão, a que os partidos no poder em Berlim pretendem dar muito destaque, dizendo que se trata de "um importante contributo" para a formação do exército maliano. Mas o jornal die tageszeitung escreve que a formação da Bundeswehr não é tão importante assim:
A formação dirige-se, por enquanto, a apenas trinta soldados malianos. Uma iniciativa à qual a sociedade maliana não atribui qualquer importância. O curso tem lugar numa base militar na localidade de Koulikoro, a 60 quilómetros da capital Bamako. Os alemães pretendem treinar e capacitar os malianos nas técnicas de colocação e remoção de barreiras, assim como nas técnicas de prestação de primeiros socorros a feridos. A formação dos 30 soldados malianos é assegurada por 80 especialistas alemães. Os alemães não combatem no terreno, apenas dão formação. A iniciativa é parte da missão de treino da União Europeia, a EUTM Mali, de que os especialistas alemães fazem parte. A EUTM Mali pretende treinar cerca de 2.600 soldados malianos nos próximos 12 meses, afirma o comandante Timo Wirtz, porta voz do exército alemão no Mali. O mais importante é, no entanto, o que acontece no terreno: Apenas uma vitória, no terreno, contra os rebeldes no norte do Mali, possibilitará uma vida em estabilidade. E para isso será determinante a vinda dos 12.600 capacetes azuis, inclusivé duma força de intervenção da África Ocidental, a partir de Julho, como prevê a última decisão do Conselho de Segurança da ONU.
Argélia: Bouteflika tem saúde suficiente para continuar?
A Argélia, e mais precisamente a doença do presidente Bouteflika, desperta também as atenções dos jornalistas alemães. O Süddeutsche Zeitung questiona se o Presidente, que ocupa o cargo desde 1999, está em condições de regressar ao poder.
Em teoria o terceiro mandato de Bouteflika, de 76 anos de idade, termina no próximo ano. Tudo indica que ele não se poderá candidatar a um quarto mandato. Os médicos dizem que o seu tratamento hospitalar em Paris correu bem. Alegadamente o presidente teria apenas tido um pequeno problema de circulação do sangue. Mas uma coisa é certa: o presidente argelino desde 2011 que práticamente não viajava para fora do país. E mesmo as suas viagens dentro da Argélia são cada vez mais raras. Muitos argelinos estão preocupados com a sucessão de Bouteflika, querem estabilidade. Ninguém quer conflitos nem violência. Todos se lembram dos anos 90, em que uma violenta guerra civil custou a vida a cerca de 200.000 argelinos.