Sem Kadhafi, União Africana fica desfalcada, acreditam especialistas
17 de outubro de 2011O regime de Mouammar Kadhafi era um dos principais financiadores da União Africana. Depois da queda do ditador líbio, a organização regional precisa encontrar outros caminhos para se manter. Porém, para especialistas, este não é o único desafio que a União Africana (UA) precisa superar.
Para o analista político Denis Tull, o que se sabe é que a Líbia, juntamente com três ou quatro outros países, sustentava o budget da União Africana. A Líbia financiava entre 15 e 30% da parte africana. "Não sabemos exatamente quantas cotas de Estados-membros ele pagava", coloca o especialista em África da Fundação Ciência e Política de Berlim.
"A União Africana ficou desfalcada com a queda do regime de Mouammar Kadhafi na Líbia. O ditador era um dos principais financiadores da organização regional", diz o pesquisador. Ele acredita que a nova liderança do país não terá os mesmos cuidados com a UA.
Previsão pós-Kadhafi
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"Já é previsível que o novo governo da Líbia irá se dedicar menos à política africana e se interessar menos pela África", ressalta ao completar que a União Africana terá, com certeza, problemas financeiros.
O especialista acredita que a solução será recorrer cada vez mais à contribuição dos Estados-membros. Para ele, é uma questão de vontade política. Denis Tull revela que neste sentido dois episódios relativos ao conflito na Líbia mancharam a imagem da União Africana.
Para ele, um dos desastres foi que a União Africana persistiu em querer influenciar numa solução política para a Líbia, que não era mais realista, pois já era previsível que a coalisão iria derrubar Kadafi.
O outro, segundo ele, teria sido no momento de reconhecer o Conselho Nacional de Transição. O problema foi que a União Africana não encontrou consenso.
"Houve duas posições. Uma sob a direção da África do Sul que continuou não reconhecendo os rebeldes; e a outra conduzida pela Nigéria". O problema para a União Africana, continua, "está no fato de que quando os dois maiores, e mais importantes estados não estão de acordo, então a organização só pode funcionar mal".
Interesses diferentes
Denis Tull lembra ainda que houve divergência de interesses entre os Estados-membros da UA também em relação às últimas eleições na Costa do Marfim, quando Angola e África do Sul apoiaram Laurent Gbagbo e a própria UA se posicionou a favor de Alassane Ouattara.
Ele explica que já naquela época havia um conflito e a Líbia é o segundo caso, em pouco tempo, em que estados africanos importantes não estiveram em conformidade com a linha política a ser seguida. "Assim, é preciso saber se esta unidade política pode ser estabelecida novamente", alerta o analista.
Autora: Cris Vieira (Berlim)
Edição: Bettina Riffel/Marta Barroso