Sudão do Sul: Líder rebelde toma posse como vice-presidente
22 de fevereiro de 2020O líder rebelde do Sudão do Sul, Riek Machar, assumiu este sábado (22.02) o cargo de primeiro vice-presidente do país numa tentativa de cumprimento do acordo de paz assinado entre o Governo e a oposição armada em setembro de 2018.
Machar entra para o Governo de coalizão depois de o Presidente sul-sudanês, Salva Kiir, ter dissolvido esta sexta-feira (21.02) o antigo gabinete para formar um novo Executivo. De acordo com a rádio estatal sul-sudanesa, "o Presidente Kiir emitiu um decreto presidencial para dispensar todos os ministros do Governo Federal".
A cerimônia de posse do líder rebelde aconteceu com a presença do presidente do Sudão, Abdel Fattah al-Burhan, além de representantes dos governos de Uganda e África do Sul.
"Para o povo do Sudão do Sul quero garantir que trabalharemos juntos para acabar com seu sofrimento", disse Riek Machar após prestar juramento. "A formação deste Governo dá-nos esperança de que haja um novo impulso para acabar com o sofrimento do povo do Sudão do Sul e um caminho para uma paz sustentável", acrescentou.
Machar e três dos quatro vice-presidentes que também foram nomeados e fazem parte do antigo grupo de oposição prometeram cumprir as obrigações junto ao novo Executivo formado. Um quinto vice-presidente ainda deverá ser designado pelas facções rebeldes armadas.
O acordo para a formação de um governo de coligação foi alcançado na quinta-feira (20.02), quando Riek Machar concordou com Salva Kiir que, após a formação do Governo, seriam resolvidas quaisquer questões pendentes estabelecidas no acordo de paz. Este sábado era a data limite definida no tratado de paz para que fosse formado um governo de unidade no Sudão do Sul.
Governo inchado
O Governo de Transição da União Nacional vai ser composto por um Presidente, cinco vice-presidentes, 35 ministros e 10 ministros adjuntos. A oposição armada terá nove ministérios, enquanto Kiir manterá 26 pastas. No fim de semana passado, ficou estabelecida a redução do número de estados do país, de 32 para 10, mesmo número que existia em 2011, quando o país alcançou a sua independência. Essa era uma das maiores exigências dos grupos da oposição.
Este é considerado um passo crucial para pôr fim à guerra civil de cinco anos que matou quase 400 mil pessoas no Sudão do Sul. As duas partes já tinham falhado por duas vezes o cumprimento do prazo para a formação do Governo de transição conjunto, que se deverá manter até às próximas eleições, dentro de três anos.
A guerra civil no Sudão do Sul eclodiu dois anos depois de a nação ter celebrado uma longa luta pela independência do Sudão, tornando-se a nação mais jovem do mundo. O conflito prejudicou gravemente a economia do país, rico em petróleo, e a fome afetou cerca de metade da população.
Os principais desafios do processo de paz permanecem, incluindo o delicado processo de integração de dezenas de milhares de antigas forças rivais num exército unido. Esse processo tem sido marcado por atrasos. Abusos generalizados, como o recrutamento de crianças-soldado e a violência sexual, continuam a ocorrer.