Sura: O produto alcoólico típico de Inhambane
Quem visita Inhambane, no sul de Moçambique, não regressa sem provar a sura da região - oferecida em bebida alcoólica, vinagre e bolinhos. A venda é uma tradição centenária e a produção é o sustento para as famílias.
O que é sura?
Por ter grande número de palmeiras, a região de Ihambane é propensa para produção e comercialização de sura, porque se tratar de um sumo extraído da palmeira e preparado com ingredientes locais. Os produtores de sura vendem para os revendedores. Como o preço ainda é considerado baixo, o produto é acessível. Em média, cinco litros de sura chegam a custar 150 meticais [cerca de 2 euros].
Sura reúne família e amigos
Na região de Inhambane, familiares e amigos encontram-se com frequência nos locais onde a bebida de sura é vendida. Quando regressam do mar, pescadores procuram relaxar com a bebida alcoólica. Quando um visitante chega, sempre é servido com a sura como "boas-vindas" à terra da boa gente. Consome-se mais ao longo da costa.
Os famosos bolinhos
Os bolinhos de sura são feitos com farinha de trigo, mas o principal ingrediente é a bebida alcoólica de sura – por isso são chamados "bolinhos de sura". A dica é comê-los no lanche com chá ou sumo, em casa ou em restaurantes. Inhambane e Maxixe são as cidades que mais produzem bolinhos de sura e comercializam até para fora de Moçambique.
Décadas a vender sura
Abiba Iazidy vende sura em Maxixe e conta que sobrevive desse comércio há 20 anos. A bebida é bastante procurada por pescadores e outros cidadãos, sendo a maior parte deles jovens de baixa renda ou desempregados. Iazity tem filhos em idade escolar e construiu a residência da família com o dinheiro do comércio dos produtos de sura. A vendedora levou cinco anos para concluir a construção da casa.
O bairro da sura
A maior quantidade de sura é vendida nas residências ao longo da costa por seus proprietários. Muitas vezes, pessoas de outras regiões comercializam a sura. Em busca de um meio para sobrevivência, acabam fixando residência no local. Nem sempre os produtores observam questões ambientais, por isso muitas residências sofrem com as enxurradas na época chuvosa e com os efeitos do mar.
"Mal coado" não é sura
Na falta de sura, os apreciadores da bebida têm recorrido ao "mal coado", considerado a segunda opção. A forma da preparação distancia esta bebida da sura. O "mal coado" é produzido a partir da fermentação do milho até se transformar em álcool. A higiene, entretanto, é um grande desafio aos produtores. Não há fiscalização das autoridades governamentais.
Há menos sura nas palmeiras
Devido às chuvas irregulares nos últimos três anos, a produção de sura caiu drasticamente. O preço varia de acordo com a zona, porque depende de quem cultiva as palmeiras. Para extrair a sura é preciso, primeiro, cortar a flor do doqueiro. Apenas depois de cerca de 15 dias, em média, a sura deve ser retirada. Mas com a estiagem, a sua quantidade diminui.
Paragem obrigatória
Inhambane é paragem obrigatória para milhares de pessoas que saem da zona sul para o centro e o norte de Moçambique ou deslocam-se na direção inversa. Os viajantes procuram aproveitar a paragem para levar bolinhos de sura vendidos ao longo da EN1. Os bolinhos são vendidos por idosas ou jovens que trabalham para terceiros. O preço varia conforme a quantidade: 1 kg custa 200 meticais [3 euros].
Boa sura sai espuma
Muitos produtores colocam água para aumentar a quantidade de sura nos recipientes. A melhor bebida de sura é aquela cuja espuma branca sai à boca do recipiente. Clientes relatam que se deparam com sura adulterada. Geralmente estas adulterações ocorrem à noite, porque ninguém consegue avaliar melhor o produto na escuridão. Quem gosta da bebida pede maior fiscalização por parte das autoridades.
Risco à saúde pública
Vários produtores de sura não respeitam as regras de higiene para a produção da bebida. O delegado provincial da Inspeção das Atividades Económicas, José Tafula, disse que não há denúncias de irregularidades. Muitos defendem que devia haver fiscalização para se evitar o que aconteceu em Chitima – onde várias pessoas morreram após ingerirem uma substância tóxica misturada à bebida de sura.