Tradição do "unhago" está a desaparecer no Niassa
28 de janeiro de 2016Para o povo Yao, na província nortenha do Niassa, o "unhago" é de extrema importância. Este é um rito de iniciação que marca a passagem de um jovem à fase adulta e inclui, no caso dos rapazes, a circuncisão. Os rapazes são enviados para o mato, durante um mês; as meninas ficam numa casa - e são-lhes transmitidos ensinamentos sobre a vida adulta.
Mas há cada vez menos crianças a participar nos rituais. Segundo a anciã Tina Manuel, muitos pais temem que os filhos fiquem doentes após serem circuncidados no ritual, em que não têm qualquer contacto com o exterior. Preferem, por isso, que os filhos façam a circuncisão nos hospitais, perto de si e sob a observação de médicos e enfermeiros.
"As pessoas já viram que não adianta meter a criança no 'unhago', pois as crianças passam mal lá. Muitas das vezes, as crianças acabam morrendo lá", diz Tina Manuel.
Com cada vez menos crianças a participar, e para conseguir manter um número constante de participantes, entram no ritual crianças cada vez mais novas. E isso também não agrada aos pais, conta o ancião Mustafá Aidé: "Antigamente, deixavam a criança crescer. Até aos oitos anos, pelo menos. Depois punham-nos no 'unhago'. Mas agora com seis anos, está a ver…"
Por outro lado, o ritual representa uma "quebra" financeira para as famílias. De acordo com Mustafá Aidé, cada vez menos pessoas têm possibilidades de pagar as despesas que a tradição envolve (para alugar equipamentos de som e comprar roupas e alimentos para um mês, por exemplo).
Adaptar tradição a novos tempos
"As pessoas sabem que, se levam o filho para ritos de iniciação de forma tradicional, há vantagens e desvantagens", resume Januário Mário, licenciado em Psicologia Educacional de Infância. "Claro que é uma forma de herdar os nossos conhecimentos tradicionais e culturais. Mas tem riscos de saúde, relacionados com o material usado para a circuncisão, por exemplo."
Apesar de tudo, a tradição poderá ser mantida: "Se acontecer uma união entre a Saúde e os líderes tradicionais que praticam essa tradição, creio que se poderá manter a cultura", acredita o académico.