Um mercado maior para os pequenos agricultores do Burkina Faso
Pesalomo Ouédraogo (foto principal) apanha uma pedra do chão e atira-a na direção do porco que grunhe ruidosamente. O agricultor está irritado, porque as suas batatas voltaram a ser atacadas por um animal. "Na verdade, queria cercar toda a área. Mas este ano não tenho dinheiro suficiente para fazer isso numa área com um hectare e evitar, assim, que os animais fiquem longe das plantas", conta.
Mas nem tudo é assim tão mau, já que, afinal, o porco só deu algumas mordidelas. E as batatas continuam saudáveis e verdes nas linhas longas e retas do campo de Ouédraogo. "Plantei batatas e couve-flor. E em breve vou plantar cebolas. Todos estes campos são meus. Aqui, as batatas ocupam um quarto de hectare. Espero colher seis toneladas de batatas. Já foi tudo calculado."
Os cálculos foram feitos por Ouéraogo juntamente com um conselheiro da sua associação - uma rede de 99 agricultores dos arredores de Komsilga, uma localidade no centro do Burkina Faso. Ser membro desta associação custa-lhe, por ano, 25 mil francos CFA (cerca de 40 euros).
Dinheiro que é bem gasto, diz o agricultor. "Temos esse dinheiro no banco. E graças a esses ativos qualquer pessoa pode pedir empréstimos individuais para melhorar o seu trabalho". Com os empréstimos, é possível comprar máquinas, como a motobomba que Ouédraogo adquiriu. Juntos, os agricultores também podem vender maiores quantidades e, portanto, obter melhores preços, afirma. "Só se nos unirmos a outros iremos realmente conseguir algo", frisa.
Pequenos agricultores na grande política
Isso aplica-se não só no campo, mas também na capital, Ouagadougou. É aqui que a Associação de Agricultores do Burkina Faso tem o seu quartel-general. Os seus escritórios estão instalados num andar modesto. Os objetivos da associação são ambiciosos, diz o secretário-geral, Zongo Jules. "Nós transmitimos as posições dos agricultores às autoridades, para que o Estado atenda às necessidades específicas dos pequenos agricultores quando elaborar uma política", explica.
Segundo Jules, existe um problema fundamental: "Se se comparar o rendimento dos nossos agricultores com os que são alcançados no Ocidente, então veremos uma grande diferença. Porquê? Porque os agricultores lá têm outros meios disponíveis. Basta olhar para a mecanização, para os enormes tratores que lá existem." Lembra ainda: "Há uma política agrícola na Europa e nos Estados Unidos que apoia e subsidia fortemente os seus agricultores."
Países como o Burkina Faso não têm dinheiro suficiente para apoiar os agricultores como acontece com os Estados Unidos ou a União Europeia (UE). Por outro lado, "também há falta de vontade política", reclama o secretário-geral da Associação de Agricultores do Burkina Faso. "Se os nossos políticos tivessem vontade de aumentar a produção e a produtividade, poderiam investir nela. Não na mesma extensão como no Ocidente, mas pelo menos num nível baixo."
Um exemplo apontado pelo secretário-geral da associação é a produção de cereais. Nos últimos três anos, o Estado apoiou os agricultores comprando sementes e transferindo-as a preços razoáveis. "Em três anos conseguimos triplicar a produção de cereais de 200 mil toneladas para 600 mil toneladas!", sublinha Jules.
Em busca de mercados para os agricultores
No entanto, mesmo que a produção aumente, não significa automaticamente bons rendimentos para os agricultores. Pois não é apenas a colheita que é fundamental, mas também o que vem depois, diz Florent-Dirk Thies, que coordena o programa agrícola da Sociedade Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ) no Burkina Faso.
O problema é que a maioria das pessoas aqui ou se dedica à agricultura de subsistência ou recebe ajuda alimentar do exterior. Isto é, uns consomem os próprios produtos e os outros produtos importados. Não existe, por isso, um verdadeiro mercado para alimentos produzidos localmente. "E quando não existe um mercado e a agricultura, na verdade, serve apenas para subsistência, então não existem quaisquer possibilidades de financiar meios para intensificar a agricultura, como fertilizantes, sistemas de irrigação, etc.", refere.
Com a ajuda desses meios, os agricultores poderiam aumentar as suas colheitas, afirma Florent-Dirk Thies. Por esse motivo, defende que o Burkina Faso deveria tentar oferecer no mercado mundial os chamados "cash-crops", ou seja, os produtos agrícolas que podem ser exportados de forma lucrativa. Tradicionalmente o país vende algodão, que também é parcialmente comercializado com rótulos de comércio justo e transformado no estrangeiro.
"Se conseguíssemos, por exemplo, estabelecer a produção de óleos essenciais, então estes poderiam ser processados no local. O produto teria então um valor tão alto que compensaria e o Burkina Faso seria competitivo." Dá como exemplos a citronela, um óleo que é extraído de uma planta parecida com o capim-limão, e o óleo essencial de gengibre.
Custos de transporte dificultam exportações
Florent-Dirk Thies fala em "nós" quando pensa na agricultura no Burkina Faso. Não admira que, em nome da Sociedade Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ), aconselhe o ministro da Agricultura do país, Laurent Sedogo.
Hoje na agenda tem a preparação de uma viagem do ministro à Alemanha. Na verdade, Sedogo gostaria de exportar mais para o país europeu. Convidou Thies para o seu gabinete num edifício amarelo em Ouagadougou. O ministro observa o seu convidado alemão, recosta-se depois na sua cadeira de couro e fala de dias melhores.
Há alguns anos, o país chegou a ser o principal exportador de feijão-verde. Hoje, no entanto, já só ocupa os últimos lugares nessa lista. "Principalmente por causa dos custos de transporte. Somos um país sem acesso próprio ao mar. E, por isso, não podemos vender os nossos feijões a um preço competitivo", explica o ministro. Por isso, o objetivo agora é aumentar a produtividade e a qualidade dos produtos para depois voltar ao mercado mundial.
O mercado mundial é uma palavra-chave constante. Mas antes é preciso saber em que países os óleos essenciais são mais procurados para a indústria dos perfumes. O primeiro objetivo, no entanto, é a segurança alimentar. "Queremos assegurar que todas as pessoas do Burkina Faso estão bem nutridas.", afirma Laurent Sedogo. "Em segundo lugar, gostaríamos que a agricultura fosse a base para uma economia próspera. Mais de 80 por cento da nossa população vive da agricultura. E se essas pessoas obtiverem rendimentos através da agricultura, então reduzirão a pobreza e serão capazes de investir", conclui o ministro da Agricultura do Burkina Faso.
Prosperidade através da enxada
Pesalomo Ouédraogo é agricultor há 22 anos. Com os métodos simples com os quais cultiva os seus campos conseguiu já uma modesta prosperidade. "Se trabalhar bem, então não haverá nenhum problema e terei o suficiente para mim e para minha família. Isso já acontece. Além disso, adoro o meu trabalho. Divirto-me a trabalhar no campo", assegura, acrescentando que não depende de ninguém para ganhar a vida.
Para continuar a aumentar os rendimentos, Ouédraogo também investe. Está a construir um armazém cooperativo juntamente com os seus colegas. Aponta para as obras apenas a algumas centenas de metros dos seus campos. Aqui poderão ser armazenadas até 20 toneladas de cebolas - desde que tenham um bom preço no mercado. Ficarão também bem protegidas dos porcos das redondezas.