"Zulu branco" em digressão pela Alemanha
Johnny Clegg vai lançar em dezembro o seu primeiro álbum acústico gravado durante um concerto na Cidade do Cabo, na África do Sul. Nas faixas do novo disco pode encontrar-se o seu "hit" mundial "Scatterlings of Africa" e 14 outras composições que marcaram os 35 anos de carreira daquele que foi um dos porta-vozes mais célebres da luta contra o regime do apartheid na África do Sul.
Clegg já considera este acústico como um álbum histórico. "Quando oiço as músicas deste álbum, lembro-me do passado, como era a vida na velha África do Sul", conta, recordamdo que a canção "Scatterlings of África" lançou os seus dois grupos para os palcos internacionais.
Com Juluka, a música atingiu o Top 40 na Grã-Bretanha em 1983. Depois, gravou-a com Savuka e tornou-se número um na Suíça, Bélgica e França e agora está no Top 50 na Europa. "Portanto, gosto muito desta música porque teve um papel muito importante na minha carreira", acrescenta.
"Mandela apareceu de surpresa"
Um dos grandes momentos da vida do autodenominado o "Zulu branco" aconteceu em 1999, quando o presidente Nelson Mandela apareceu de surpresa numa altura em que Johnny Clegg atuava num concerto em Frankfurt, na Alemanha.
Nesse momento cantava "Asimbionanga", o seu hit de 1987, na época, a primeira canção que exigia abertamente a libertação de Mandela, uma música proibida pelo regime do apartheid.
"Foi um grande choque, fiquei sem fôlego e muito interessante porque 11 anos antes, quando escrevi esta canção, vigorava na África do Sul o estado de emergência", conta o cantor.
Segundo Clegg, a canção era para dizer que Mandela era a pessoa que poderia unir todos os sul-africanos. "E 11 anos depois, foi para mim a maior consagração como cantor. Fiquei extremamente emocionado quando Mandela apareceu e me disse: "não vejo as pessoas a dançar. Johnny, recomeça.' E interpretamos novamente a canção. Foi formidável. Um grande momento!", recorda.
Autobiografia publicada em 2014
Johnny Clegg mergulha no seu passado e diz que depois de todos esses anos está atualmente a escrever uma autobiografia. Mesmo que não seja um exercício fácil, espera concluir o livro em junho do próximo ano.
"É difícil porque devo lembrar-me de coisas que aconteceram há muitos anos", confessa. "Algumas vezes estou num impasse porque é mais fácil contar as coisas, as histórias do que ir para um computador e escrever sobre mim mesmo".
O músico participa também na criação de uma comédia musical, um projeto que deverá também estar finalizado no próximo ano. Trata-se de uma história sobre a vida de Johnny Clegg através das músicas que escreveu e interpretou.
"Penso que ajudei a escrever a História do meu país, a África do sul. Existe um Johnny, um Sipho, a minha esposa, todos os atores. Ainda a escolha não foi feita, mas a primeira terá lugar sem dúvida no próximo mes de dezembro. É um projeto muito ambicioso".
Johnny Clegg ocupa-se da sua empresa de reciclagem de lixo doméstico e material eletrónico e afirma que isso interessa-lhe porque se trata de um negócio que contribui para a redução da poluição do meio ambiente.
"É também um investimento para quando for muito mais velho e não poder mexer tanto no palco", admite ainda.
"Participei em pesquisas durante dez meses e desenvolvemos um programa que permite ver como os detritos plásticos são reciclados para serem transformados mais tarde numa chávena, num prato, etc. O cliente está contente porque os resíduos sólidos não foram depositados numa lixeira a céu aberto", explica o músico.
Clegg já vendeu cinco milhões de álbuns
Aos 60 anos, o "Zulu branco" não perdeu nada da sua energia e entusiasmo. A continuação na família Clegg já está assegurada porque o filho Jesse Clegg, que toca rock alternativo, conta brevemente gravar mais um trabalho discográfico nos Estados Unidos.
"Espero que ele consiga um contrato. Já editou dois álbuns, que venderam muito bem na África do Sul. Mas penso que ele já compreendeu que para a sua música ele deve ir para o estrangeiro", afirma Johnny Clegg, que com cinco milhões de álbuns vendidos no mundo é hoje considerado uma lenda viva.