Cubana, feminista e bissexual
Conheça Yasmín S. Portales, ativista e fundadora do Projeto Arco-Íris, a primeira organização cubana independente a integrar a Associação Internacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais.
Contra a "rigidez mental"
"Com seu véu, sua pele queimada [num acidente na infância], sua inteligência, seu espírito crítico, seu humor ácido, a foto de seu casamento com Rogelio (ela de véu branco de noiva, como Deus manda) exposta no mesmo blog em que ela se declara bissexual, Yasmín desafia nossa rigidez mental", escreve June Fernández, diretora da publicação feminista "Píkara Magazine", do País Basco.
Feminista e queer
Cheia de cicatrizes, perguntas e críticas à "lógica da beleza e da feminilidade" e às "dinâmicas de subordinação" da mulher nos "modelos de família vigentes", Yasmín se identifica como uma feminista "queer" – ela defende a ideia de que a sexualidade é fluida e varia ao longo da vida. "Em questão de estética, política e sexualidade, quase ninguém crê nas mesmas coisas aos 20 e aos 45 anos", diz.
Mãe
A maternidade veio "por acidente", com um filho "desejado, mas não planejado", conta Yasmín. Trouxe à tona todos os temas sobre os quais ela já havia refletido: a premissa de que abandonaria sua carreira, os preconceitos sobre o sexo do bebê, "coisas com que sigo lutando diariamente na educação do meu filho", defendendo-o ou enfrentando-o, conforme o caso.
Pesquisadora
Yasmín integra o grupo de trabalho "Anticapitalismo e Sociabilidades Emergentes" do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO). "Seguimos os movimentos sociais na América Latina, os camponeses, as mulheres, as organizações trabalhistas", conta. Em maio deste ano, ela se reuniu com seus colegas no 23º Congresso da Associação de Estudos Latino-Americanos (Lasa), em Porto Rico.
"Mudar Cuba de dentro de Cuba"
Como muitos cubanos, "eu brincava com a ideia de emigrar", admite. "Talvez por isso eu acredite no direito dos cubanos e cubanas que emigraram de opinar sobre o destino do país." Yasmín, porém, decidiu "tentar mudar Cuba de dentro de Cuba", atuando em coletivos como o Projeto Arco-Íris e a Rede Social Observatório Crítico, reunida na foto em seu fórum social de 2011.
Projeto Arco-Íris
Fundado em 2011, o Projeto Arco-Íris se tornou, em 2014, a primeira organização cubana independente a ser aceita como membro pleno da Associação Internacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (Ilga, na sigla em inglês). Após lutar contra a exclusão de ativistas independentes, o projeto participou da 6ª Conferência Regional para América Latina e Caribe (Ilga-Lac), em Cuba.
Com lenço
Yasmín tem duas razões para usar o hijab (vestuário típico da doutrina islâmica), apresentado a ela sob o sol intenso de Quito, no Equador. "A razão pessoal: não gosto de pentear o cabelo", conta ela, rindo. "E a política: sou feminista e me visto como eu quiser." Enquanto algumas mulheres são obrigadas a usar o lenço "em nome da religião ou da integração cultural, eu defendo o poder de escolha".
"Beijaço"
Em 2012, o Projeto Arco-Íris promoveu a manifestação "Besadas por la Diversidad" (Beijos pela Diversidade), que reuniu dezenas de pessoas na Plaza de la Revolución, em Havana. Em 2014, o protesto ocorreu na cidade de Sagua La Grande (foto). "Um sucesso em Cuba, onde não há acesso aos meios de comunicação, com um tema tabu: como os gays, lésbicas e trans vão tomar o espaço público", conta Yasmín.
Contra a exclusão
O Arco-Íris também organiza o chamado "Motivitos LGBTQA", idealizado por outra ativista do grupo. Trata-se de um movimento contra a exclusão classista de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queers e simpatizantes, ocorrida em alguns espaços de lazer LGBT, "que se tornaram muito caros", afirma Yasmín.
Visibilidade na mídia estatal
O primeiro curso de Literatura LGBT em Cuba – organizado em 2014 pelos poetas e críticos cubanos Victor Fowler e Norge Espinosa, membro do Projeto Arco-Íris – levou à publicação de reportagens reflexivas sobre a presença do homoerotismo na arte cubana na edição 38 da revista "Extramuros", produzida pela Secretaria de Cultura de Havana.
Voluntariado internacional
Em 2013, na Parada do Orgulho Gay em Nova York, nos Estados Unidos, Yasmín ajudou a controlar o trânsito de uma movimentada esquina da cidade. "Foi o melhor trabalho voluntário da minha vida", conta. Na viagem de volta, "o trem estava cheio de gente com bandeirinhas, adesivos, casacos, guarda-chuvas. Fazíamos sinais de cumplicidade, como se soubéssemos de algo muito especial, e sabíamos mesmo".
Aprendizado
Yasmín está fazendo um curso em Washington sobre o Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos para a Sociedade Civil, promovido pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Ela está conhecendo o funcionamento da CIDH, seus funcionários, repórteres e ativistas, assistindo a audiências e aprendendo, "da primeira fila, como se usa o mecanismo e como respondem os Estados".