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Divergências além da guerra no Iraque

Marcio Weichert30 de maio de 2003

Líderes do G-8 reúnem-se na França, com longa agenda de polêmicas, assim como a necessidade de cicatrizar as feridas da guerra do Iraque. Lula também estará em Evian.

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Será Evian o palco da reconciliação?Foto: AP

Marcada para domingo e segunda-feira na francesa Evian, na margem sul do Lago de Genebra, o encontro de cúpula do G-8 começa informalmente em São Petersburgo, na Rússia, nesta sexta-feira (30/05). Ao comemorar seus 300 anos de fundação, a ex-capital czarista está recebendo 40 chefes de Estado e de governo. Entre uma recepção e outra, eles terão a oportunidade de cuidar das feridas diplomáticas abertas pela guerra no Iraque sem aval da ONU e discutir as saídas para a crise econômica mundial.

Além dos oito líderes dos sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia, muitos estarão presentes também em Evian. A iniciativa de ampliar a reunião do seleto grupo partiu do anfitrião Jacques Chirac. E não à toa. Com o convite aos chefes de governo e Estado do Brasil, China, México, Índia e outros, o presidente da França parece querer mostrar a Washington o que tem em mente quando fala num mundo multipolar em antítese ao unilateralismo americano. "Nós precisamos de um diálogo intenso com os países em desenvolvimento e emergentes", fundamentou o chefe de Estado francês.

Hora da reconciliação?

Por ser a primeira reunião de cúpula entre os antagonistas da questão iraquiana, é grande a expectativa sobre o relacionamento do presidente dos EUA com seus colegas da Alemanha, França e Rússia. Haverá passos rumo a uma reconciliação? Embora o chanceler Gerhard Schröder seja o único dos adversários da guerra do Iraque que não terá um encontro reservado com George W. Bush, o governo alemão diz estar tranqüilo e otimista. Já em São Petersburgo diplomatas de ambos os países terão chance de passarem a limpo suas divergências.

Resposta para a crise econômica

Demonstration gegen G8 in Lausanne
Na quinta-feira, quatro mil pessoas protestaram contra a globalização em Lausane, também no Lago de GenebraFoto: AP

As conferências do G-8 costumam concentrar-se em temas econômicos. De Evian, um povoado com 7500 habitantes, os ministros das Finanças do grupo esperam de seus chefes um sinal de confiança no retorno do crescimento econômico após a guerra. As previsões mais pessimistas – de deflação nos EUA, na União Européia e no Japão – precisariam ser combatidas imediatamente. E não apenas negando-as, como tem feito o governo alemão. O desemprego crescente está provocando retração no consumo e este realimenta o desemprego num ciclo vicioso.

As conseqüências da epidemia de SARS na China, Hong Kong, Taiwan e Canadá para as economias da Ásia Oriental, a aviação civil e o turismo mundiais também constarão da agenda. Assim como a desvalorização do dólar, que prejudica a economia européia e favorece a americana. Mas se os líderes do Velho Continente cobrarem de Bush medidas para reverter a atual tendência cambial, é capaz de o presidente dos EUA por na mesa suas críticas aos rigorosos critérios de déficit da zona do euro. Para Washington, o Banco Central Europeu demora em baixar seus juros numa conjuntura de pouco crescimento econômico.

Reformas e subvenções

O governo alemão acredita que o debate sobre soluções para a crise vai girar mais em torno das reformas estruturais. Todos os países do G-8 sofrem dos mesmos problemas: envelhecimento da população, sistemas de seguridade e saúde cada vez mais sobrecarregados.

O grupo dos oito também busca desatar o nó da atual rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio, iniciada em Doha, no Catar. Os próprios membros do G-8 representam na OMC interesses divergentes. Os EUA defendem uma redução radical nas subvenções agrícolas, mas o Japão e a Europa em geral resistem.

Antiglobalização

A pauta da cúpula, entretanto, vai além dos temas exclusivamente econômicos. Bush deverá aproveitar a oportunidade para tentar convencer os demais de seus planos de reconstrução do Iraque e de combate ao terrorismo internacional. Chirac, por sua vez, deseja respostas para os pleitos dos opositores da globalização, que querem torná-la mais justa. O francês quer ampliar os programas de perdão de dívidas, ajuda ao desenvolvimento, água potável e produção de remédios de baixo custo (sobretudo contra aids, malária e tuberculose). A maior resistência a esta última proposta vem da indústria farmacêutica americana.

A iniciativa de Chirac de colocar estes temas na mesa de debate pode talvez ser interpretada como uma conquista da repetida mobilização em massa de militantes antiglobalização de todo o mundo, que muitas vezes resultaram em cenas de violência, como em Seattle e em Gênova. Se no ano passado poucos ativistas ousaram pagar caro para protestar no isolado povoado canadense de Kananaskis, desta vez eles deverão estar de volta para pressionar os líderes da economia mundial. Da Alemanha e de outros países, os antiglobalização estão lotando trens rumo ao Lago de Genebra. A polícia espera mantê-los no mínimo a 30 quilômetros de distância do local da cúpula. Mas, mesmo que façam seu barulho fora de Evian, parece que já há quem esteja ouvindo e compreendendo seu recado.