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Literatura feminina

15 de dezembro de 2010

Recém-fundada, editora "Edition fünf" irá lançar no mercado editorial alemão cinco livros anualmente: todos escritos por autoras injustamente relegadas ao ostracismo ou cujas obras estejam esgotadas há tempos.

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Projeto gráfico especial

Quem resolve fundar uma editora nos dias de hoje, tem que ter uma boa dose de idealismo e recursos financeiros. Silke Weniger dispõe das duas coisas. Com uma carreira consolidada no mercado editorial há mais de 20 anos, ela começou a trabalhar como secretária de uma agência literária, quando ainda era estudante, sendo hoje considerada uma das agentes mais bem-sucedidas da Alemanha.

Best-sellers financiam os textos preferidos

Weniger já ganhou muito dinheiro com vendas de best-sellers. "Sentia a necessidade de fazer algo na contracorrente", diz ela, ao comentar por que pretende, em sua nova edition fünf, se dedicar exclusivamente a livros escritos por mulheres, especialmente aqueles estimulantes, críticos, espirituosos e que levam à reflexão. "Belos livros para mulheres inteligentes" é o slogan publicitário da editora.

Uma premissa que lembra aquelas do movimento feminista de 1970, cujas ideias eram semelhantes, mas que para Silke Weniger ainda são uma terra incógnita. Ela nasceu em 1962 e conhece esses movimentos apenas "de ouvir falar", embora nutra uma simpatia por eles. Ela confessa que na infância se sentia fascinada, em primeira linha, por aquelas mulheres que exerciam a profissão de professoras, mas também por estrelas do rock e artistas.

"Ali tinha uma vivacidade que eu sempre quis atingir", diz ela. No entanto, quando se tornou adulta, o movimento feminista já havia esmaecido. Enquanto muitas jovens de hoje mantêm conscientemente uma distância das feministas de então, Silke Weniger tem uma boa relação com essa herança. "Não tive uma mãe feminista como muitas dessas jovens, sou velha demais para pertencer a essa geração", brinca ela, ao justificar o porquê de sua postura positiva em relação ao movimento feminista dos anos 1970.

Três mulheres – três gerações

Silke Weniger se empenha há anos em prol de uma rede de mulheres no mercado editorial, que envolve desde livreiras até tradutoras e agentes literárias. Entre estas está, por exemplo, Karen Nölle, antiga conhecida de Weniger, que assumiu a coordenação da edition fünf. Nölle nasceu em 1950 e traz em sua bagagem as experiências do feminismo do passado, embora não goste de se autointitular feminista. "Tenho dificuldades com todos os 'ismos'", diz ela, uma conhecedora exímia da literatura feminista, principalmente daquela produzida nos países anglo-saxões.

Herausgeberinnen und Verlegerin der edition fünf
Karen Nölle, Christine Gräbe e Silke WenigerFoto: Kathleen Bernsdorf

A ideia de produzir livros inteligentes especialmente para o público feminino entusiasmou Nölle de imediato, mas assumir toda a coordenação da nova editora ela não quis. "Iria ficar parecendo a caixinha de livros da tia Karen", brinca ela. Como contraponto, entrou no projeto Christine Gräbe, 25 anos mais jovem que, por sua vez, traz novas ideias à editora "sem qualquer compromisso com o movimento feminista". Ou seja, na edition fünf há o envolvimento de três gerações ao mesmo tempo. "Entre nós três há uma diferença de 12 anos, respectivamente", revela Karen Nölle.

Leitura leve e reflexão

A ideia é lançar cinco livros, sempre no outono europeu, no segundo semestre de cada ano. Sempre um volume de contos, porque muitas autoras escolhem o formato e se destacam neste gênero literário, sobretudo Alice Munro, uma das maiores contistas de todos os tempos.

Além disso, fará parte ainda do "pacote" da editora uma obra de leitura fácil e um livro que leve mais à reflexão, com lembranças ou discussões acerca da literatura feminina, e, por fim, um clássico. Os cinco volumes deverão ser lançados sempre sob um lema comum e a cada ano terão capas envoltas em uma fita de uma cor diferente.

Nos primeiros lançamentos, marcando o nascimento da editora, o tema é Aufbruch (eclosão), adequado à entrada da edition fünf no mercado editorial, e trazem uma faixa na cor verde – simbolizando a primavera e a esperança. Tratam-se, em todos os casos, de histórias nas quais as mulheres começam uma vida nova: as Heldinnen des Glücks (Heroínas da Sorte), numa coletânea de contos; Edna, na novela O Despertar, romance de Kate Chopin que desencadeou um escândalo em 1899; as protagonistas escolhidas por Joyce Johnson, autora da geração beat e amante de Jack Kerouac; Bele, no romance Hochzeit in Konstantinopel (Casamento em Constantinopla), representante da vertente de clássicos neste ano; e Sonja em Café Saratoga, a apaixonante estreia de Malin Schwerdtfeger na literatura do ano de 2001.

O início do sucesso

O projeto gráfico dos livros é assinado por Kathleen Bernsdorf, no qual a força e o frescor do vermelho contrastam sutilmente com o verde da fita que envolve os volumes, todos contendo uma pequena ilustração. No lado interno da fita, há ainda um espaço destinado à dedicatória – uma ideia charmosa das editoras.

E como se não bastasse a beleza do projeto gráfico, os livros da edition fünf são ainda agradáveis de manusear e relativamente baratos. Diante disso tudo, a ressonância no mercado editorial foi grande. A nova editora de Silke Weniger não deverá certamente publicar best-sellers, algo com que nem ela mesma conta. O que importa a ela é chamar a atenção para livros de escritoras que recebem pouca atenção do público. Os primeiros da série Aufbruch (eclosão) certamente já conseguiram maravilhosamente fazer isso.

Autora: Heide Soltau (sv)
Revisão: Marcio Damasceno