Estado de emergência após noite de violência em Charlotte
22 de setembro de 2016O governador do estado da Carolina do Norte declarou estado de emergência nesta quarta-feira (21/09), depois de uma segunda noite de distúrbios violentos na cidade de Charlotte, motivados pela morte de um homem negro pela polícia.
"Declarei o estado de emergência e iniciei esforços para destacar a Guarda Nacional e a patrulha rodoviária para assistir à polícia local", escreveu o governador Pat McCrory no Twitter.
Uma vigília pacífica no centro da cidade se transformou em marcha e acabou resultando numa noite de violência. Um dos manifestantes foi atingido por uma bala e ficou gravemente ferido – inicialmente as autoridades indicaram que o homem morreu, mas depois disseram que ele se encontra em estado grave.
A polícia reiterou que não disparou contra o manifestante. O jornal The New York Times publicou uma fotografia de um manifestante com uma arma na mão. "Não podemos tolerar a violência, não podemos tolerar a destruição de propriedade, não toleraremos os ataques a polícias que estão a acontecer", disse McCrory à emissora CNN.
Vídeos mostram uma pessoa deitada no chão, em meio a uma poça de sangue, enquanto manifestantes gritam ou pedem socorro. A vítima foi socorrida por policiais e manifestantes e levada para um hotel. Além deste, ao menos sete policiais e dois manifestantes sofreram ferimentos e foram atendidos pelos serviços médicos.
Depois do incidente, muitos manifestantes, que gritavam palavras de ordem como "black lives matter" (vidas negras têm valor) foram embora. Alguns grupos, porém, permaneceram, dando início a uma onda de depredações a lojas, hotéis, restaurantes e outros estabelecimentos. Também pessoas foram agredidas, incluindo jornalistas que trabalhavam no local.
A polícia respondeu com gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha. Não foi divulgado quantas pessoas foram detidas, mas o número deve ser elevado, já que os manifestantes causaram danos substanciais a lojas, residências e veículos.
Esta foi a segunda noite de distúrbios depois de um policial matar, na terça-feira, o afro-americano Keith Lamont Scott, de 43 anos, que segundo as autoridades estava armado, apesar de não ter sido esclarecido se apontou a arma contra os agentes.
Os familiares de Scott, por seu lado, asseguraram que o homem estava à espera que o seu filho regressasse da escola e negaram que tivesse uma arma. Eles disseram que ele tinha um livro na mão e acusam a polícia de trocar o livro pela arma.
Numa entrevista, a prefeita de Charlotte, Jennifer Roberts, pediu calma e prometeu total transparência na investigação ao caso. Ao lado dela, o chefe da polícia de Charlotte, Kerr Putney, afirmou que "a história é muito diferente da que foi contada nas redes sociais".
Segundo Putney, os policiais pediram a Scott que largasse a arma que transportava quando saiu do veículo. Ele não especificou, porém, se a vítima chegou a apontar a arma para os policiais. O chefe da polícia garantiu que, no local do incidente, foi encontrada uma arma perto do corpo da vítima e não um livro, que a família disse que Scott estava lendo enquanto esperava seu filho regressar da escola.
O caso ficou registrado em vídeo devido às câmaras que os polícias implicados transportavam, mas as autoridades mostraram-se reticentes em tornar as imagens públicas. O chefe da polícia disse que o agente que atirou, Brentley Vinson, não tinha uma câmera instalada em seu uniforme, mas que outros agentes que se encontravam no local tinham o equipamento.
Charlotte é a maior cidade da Carolina do Norte, com mais de 825 mil habitantes e 35% de população negra. Segundo o jornal Washington Post, desde janeiro 706 pessoas foram mortas pela polícia americana. Delas, 173 eram negras, 24% do total – a comunidade afro-americana representa, de acordo com o último Censo, 13% da população dos EUA.
AS/lusa/efe/ap/afp