Fantasma da guerra ainda ronda
14 de novembro de 2002A discreta manifestação de contentamento do governo alemão foi expressa pelo deputado do Partido Verde Ludger Volmer, durante debate no Parlamento em Berlim, nesta quinta-feira (14), sobre a cúpula da OTAN na próxima semana, em Praga. Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores, Joscka Fischer, limitou-se a exigir que a Ucrânia respeite o direito internacional e não exporte armas para o Iraque, como está sendo acusada.
O silêncio do ministro verde demonstra o ceticismo generalizado com a decisão do Iraque de permitir que os inspetores da ONU investiguem a existência de armas químicas e biológicas em seu poder. Por causa da sua rejeição total a uma intervenção militar para desarmar o Iraque e destituir o presidente Saddam Hussein, o governo social-democrata e verde do chanceler federal Gerhard Schröder havia provocado a pior crise do pós-guerra entre a Alemanha e os Estados Unidos. Indignado, o presidente americano George W. Bush nem parabenizou o chefe de governo alemão por sua vitória eleitoral em setembro. Mas ambos já fizeram as pazes nesse meio tempo.
Perigo de guerra persiste
As experiências com o Iraque justificam o temor manifestado por políticos e peritos alemães de que Saddam Hussein não abra as portas dos seus palácios para os inspetores da ONU. O Instituto Alemão para o Oriente, em Hamburgo, por exemplo, continua contando com um ataque militar contra Bagdá. "As manobras diplomáticas das últimas semanas foram apenas um rodeio", disse o presidente do Instituto, Udo Steinbach, para quem "os americanos não perderam de vista a sua meta de mudar o poder em Bagdá".
A aceitação da resolução da ONU pelo ditador Saddam Hussein, depois de ter sido rejeitada por unanimidade pelo Parlamento iraquiano, não foi uma surpresa, segundo o perito, principalmente por causa da posição dos Estados árabes, que temiam por sua estabilidade no caso de uma ação militar contra o Iraque. Mas na avaliação de Steinbach o documento que criou as bases para novas inspeções de armas no Iraque contém tantas exigências que Bagdá dificilmente irá cumpri-lo. "Eu não posso imaginar que, no final, o regime permita que se abram todas as portas dos palácios do presidente Hussein e cada câmara e toalete", afirmou. Ele conta como certa uma reação do Iraque e, neste caso, uma inevitável intervenção militar dos EUA.
Inimigo desconfiado
O Kuweit considerou que, permitindo a fiscalização de seus arsenais, indústrias e palácios, "o Iraque decidiu não desperdiçar o sangue do seu povo", mas continua cético com a possibilidade de Saddam Hussein cumprir a sua palavra. "Embora nossas experiências com o Iraque não nos permitam dizer com segurança que o seu regime vai cumprir sua palavra, tempos grande esperança de que esse regime vai agir corretamente com os representantes da ONU, a fim de mostrar ao mundo que não possui armas químicas e biológicas", disse o ministro kuweitiano das Relações Exteriores.
A desconfiança do Kuweit tem razão de ser não só porque já foi invadido pelo Iraque. Analistas e parte da imprensa na Alemanha e na Europa avaliam como um progresso a permissão para os inspetores da ONU retornarem ao Iraque, mas não vêem motivo para júbilo. A decisão que Saddam Hussein anunciou à ONU não afasta definitivamente o perigo de uma intervenção militar dos EUA. O regime anunciou com freqüência no passado sua vontade de cooperação e rompeu com suas promessas repetidas vezes. A questão é esperar para ver o que acontece desta vez.