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Entrevista

Kate Bowen (rr)17 de janeiro de 2009

Ingo Metzmacher, diretor musical da Orquestra Sinfônica Alemã de Berlim (DSO), acredita que a música está intimamente ligada ao espírito alemão e se impôs a difícil tarefa de traduzir a música para seu público.

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Metzmacher: história deveria ter papel mais decisivo na músicaFoto: Mathias Bothor

DW-WORLD.DE: A história da Orquestra Sinfônica Alemã de Berlim (DSO) está diretamente vinculada à história da Alemanha. No entanto, você é seu primeiro diretor musical de nacionalidade alemã. Esse fato tem um significado especial?

Ingo Metzmacher: A orquestra foi fundada pelos americanos logo após a guerra, em 1946-47. É interessante saber que ela está ligada a esse período em que americanos, ingleses, franceses e russos realmente tentaram dar à Alemanha uma chance de se reconstruir.

Para mim, a orquestra representa essa Alemanha renascida após a Segunda Guerra Mundial. Ela teve uma sequência maravilhosa de regentes desde então, mas sou o primeiro alemão. Vivi cerca de dez anos na Bélgica e na Holanda, então acho que tenho também um background europeu ou internacional. Me sinto muito alemão, mas num contexto europeu e mundial.

A história singular desta orquestra exerce uma influência no perfil da mesma hoje?

Deveria exercer mais ainda. Ela se chama Orquestra Sinfônica Alemã de Berlim, então gostaria que representasse ainda mais o país e sua cultura. Temos mais de 20 nacionalidades atuando na orquestra, o que muito representa a Alemanha internacional que temos hoje – especialmente Berlim. Há uma mudança enorme na Alemanha e creio que esta orquestra jovem possa mostrar isso ao mundo.

DSO Orchesterfoto Ingo Metzmacher
A Orquestra Sinfônica Alemã de BerlimFoto: Jens Passoth

Esta é sua segunda temporada à frente da DSO. Quais são suas metas?

Gostaria de reforçar o perfil que acabei de descrever e, ao mesmo tempo, manter sua alta qualidade musical. Tenho um projeto em mente para o tempo em que estarei aqui. Quero procurar o "espírito alemão" na música. Estou interessado na relação especial da cultura alemã com a música. Muitos dos principais compositores nasceram nos países de língua alemã. Observe a Alemanha, com seus teatros e orquestras, uma paisagem cultural que é única no mundo. Acho que isso representa as raízes profundas que temos, como alemães, na música e no teatro.

Em parte, isso se deve à posição geográfica da Alemanha no centro da Europa, sempre tendo que se confrontar com influências de todos os lados. E a cultura sempre foi capaz de adotar os aspectos positivos do que entrava no país. Você pode ver que, durante o tempo em que a Alemanha decidiu não aceitar nada de fora e apenas se concentrar nas raízes alemãs, ela falhou completamente. Foi um desastre. Creio que a riqueza da cultura alemã se deve ao fato de sempre ter aproveitado o que veio de fora.

O senhor é conhecido por seu interesse pela música moderna e contemporânea. Como surgiu esse interesse?

Surgiu quando eu tinha uns 20 anos. Venho de uma família muito tradicional, de orientação clássica/romântica. Meu pai era músico e para ele a música era como um mundo sagrado. Eu não acreditava muito nisso quando era jovem. E foi muito interessante descobrir que havia um mundo moderno da música – que começava, de fato, em 1909. Desde então, a música tem sido para mim uma espécie de vasto campo aberto, que tentei descobrir por mim mesmo.

Como você transmite isso para o público?

Escrevi um livro, fiz centenas de introduções antes dos concertos começarem, às vezes falo abertamente no palco, também faço concertos informais em Berlim, nos quais explico a música para as pessoas. No final das contas, não acho tão difícil explicar a música.

Você só tem que encontrar as palavras certas para descrever o que está realmente acontecendo. Tem que encontrar uma menira de traduzi-lo. Isso é algo que me interessa muito – tentar traduzir a minha compreensão da música para uma linguagem com palavras. Não é fácil, pois, quando você escuta a música, deveria esquecer as palavras de novo e tentar entender a linguagem sem palavras.

Como você mesmo mencionou, já viveu em diversos países. Onde se sente em casa?

Comecei a me sentir em casa em Berlim. Sempre achei que iria, mas levou mais tempo do que imaginava. Minha mente me disse que Berlim era o lugar onde eu sempre quis estar. Desde jovem, queria que houvesse uma capital alemã, o que não existia na época.

Quando estava em Londres ou Paris, pensava que era uma pena a Alemanha não ter algo assim: uma cidade realmente grande onde tudo se encontra. Depois da reunificação, acho que Berlim começou a se tornar uma capital internacional. Então fiquei muito empolgado para vir para cá. Embora aqui também não seja fácil. Leva tempo para se acostumar.

O que não é fácil em Berlim?

É duro, especialmente no campo da música. Temos sete orquestras nesta cidade, três óperas e a Filarmônica de Berlim, que é uma grande instituição não só na Alemanha, mas no mundo. É duro encontrar nosso público, criar um perfil próprio, convencer os políticos de que deveriam nos dar o dinheiro de que precisamos.

Como a DSO tenta criar um perfil próprio?

Somos a única orquestra da cidade que possui um tema. Temos o espírito alemão. Temos 1909. Temos um conteúdo programático, reafirmando que a música tem algo mais a dizer que apenas ser bonita. Acredito intensamente no conteúdo da música, embora ela não tenha palavras. E é isso que quero mostrar.

Clique abaixo para escutar as discussões de Ingo Metzmacher na série Quem tem medo da música do século 20?, que ele organizou entre 1999 e 2004 em Hamburgo e que o tornou tão famoso.