Israel atrai colonos para territórios ocupados com incentivo financeiro
2 de janeiro de 2013Depois que os palestinos adquiriram, em fins de novembro, o status de Estado observador não membro na Organização das Nações Unidas, Israel anunciou imediatamente que iria acelerar a construção de novos assentamentos em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, especificamente a de 2.600 novas residências em Givat Hamatos, 1.200 em Gilo e 1.500 em Ramat Shlomo. Do ponto de vista do Direito Internacional, tais assentamentos são ilegais.
Segundo autoridades israelenses, a construção de tais assentamentos já estava prevista há muito tempo, e o anúncio logo depois do reconhecimento dos palestinos foi apenas uma coincidência. Durante os feriados de fim de ano, o ministro israelense da Defesa, Ehud Barak, declarou que a Escola Superior localizada no assentamento Ariel passa a ser considerada universidade. A Cisjordânia é um território ocupado, no qual as Forças Armadas decidem também questões ligadas à educação.
Sarit Michaeli, porta-voz da organização israelense de defesa dos direitos humanos B'tselem, analisa a situação atual da seguinte forma: "Isso demonstra mais um passo do governo israelense para mudar o percurso da fronteira verde (a fronteira existente antes da Guerra dos Seis Dias, de 1967). O governo tenta convencer os israelenses de que não faz diferença viver no núcleo do país ou nos territórios militarmente ocupados", completa a ativista. Nos últimos anos, Israel investiu muitos recursos na ampliação dos assentamentos.
Expansão graças a benefícios financeiros
O governo passou a oferecer benefícios financeiros praticamente irrecusáveis, tendo em vista o aumento do custo de vida no país. "O estranho na história é que nos assentamentos seja possível viver numa casa maior e melhor construída, pagando menos do que em Israel. Os colonos recebem empréstimos a juros mais baixos, com modelos facilitados de quitação das dívidas, além de benefícios fiscais. Ou seja, toda família que vive para além da fronteira verde goza de vantagens financeiras", diz Michaeli.
Os colonos, segundo ela, não são de forma alguma fanáticos religiosos que se transferem para os territórios ocupados a fim de realizar o sonho do Estado judeu que se estende do Mar Mediterrâneo ao Rio Jordão.
Gilli Paran, por exemplo, mora em Ramat Gan, nos arredores de Tel Aviv, e viaja todos os dias para estudar Administração de Empresas na Universidade de Samaria, como a Escola Superior de Ariel oficialmente passou a se chamar. "Aqui é tudo um pouco menor que em Tel Aviv ou Jerusalém. E você tem um tratamento mais pessoal, com menos alunos nas aulas e bons equipamentos. Investiu-se muito na universidade", conta o estudante de 29 anos.
Entre os alunos da universidade, são poucos os que moram em Ariel. Muitos encaram a jornada diária desde Israel ou optam por um quarto barato em um alojamento de estudantes. Até mesmo alguns árabes israelenses estudam em Ariel.
Paran conta não ter sido criticado por amigos ou conhecidos devido a seu apoio indireto à política israelense: "Todo mundo sabe que estudar lá não é uma postura política", diz ele, que paga por ano em torno de 2,6 mil euros pelos estudos – valor inferior ao que pagaria para estudar em outras universidades israelenses.
A "doce vida" nos territórios ocupados
Os jovens estudantes desfrutam nos assentamentos de um padrão de vida inviável na metrópole Tel Aviv, onde faltam habitações, e a alta demanda gera um aumento no preço dos aluguéis, criando enormes dificuldades de sobrevivência. "Nos últimos 40 anos, não foi criada nenhuma nova universidade em Israel, embora a população tenha aumentado", diz Paran. Esse crescimento populacional influencia também o número de colonos, que chega hoje a mais de meio milhão. E cujas necessidades têm que ser supridas.
A ativista dos direitos humanos Sarit Michaeli comenta que a ampliação dos assentamentos "não é segredo para ninguém. Desde os primórdios do movimento de ocupação ficou evidente a política de novos assentamentos e ampliação dos existentes". Segundo ela, "isso demanda obviamente investimento. Os assentamentos foram declarados territórios nacionais prioritários, o que vai de encontro à estratégia do governo". De acordo com Michaeli, apenas o governo de Yityhak Rabin, que foi assassinado por um extremista judeu, manteve uma política avessa aos assentamentos.
Para o estudante Paran, a qualidade de vida em lugares como Ariel é alta: "Posso imaginar viver aí no futuro, pois não poderia comprar um apartamento em outro lugar. Ariel é uma cidade israelense e nada indica que será devolvida aos palestinos. As pessoas deveriam aceitar isso". Michaeli tampouco acredita em uma mudança de curso na política do país: "Estamos à beira das eleições no país, e nem mesmo um novo governo mudaria a política no que diz respeito aos territórios ocupados", acredita a ativista.
Autor: Florian Mebes (sv)
Revisão: Francis França