Líderes da América do Norte se reúnem em meio a cenário desafiador
18 de fevereiro de 2014Os líderes do México, EUA e Canadá terão apenas cerca de três horas para discutir uma série de assuntos, incluindo a economia, competitividade, energia, cooperação de segurança e sobre como obter mais do Nafta, o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio.
Desde que o encontro anual teve início, em 2005, a imprensa passou a chamá-lo de "Três amigos", uma alusão ao faroeste de 1986 estrelado por Steve Martin, Chavy Chase e Martin Short. Uma fala de um dos personagens – Lucky Day – teve um particular destaque: "Bem... nós teremos de usar nossos cérebros!"
E as circunstâncias atuais não estão particularmente favoráveis para o encontro dos "três amigos", diz Silvia Nuñez, diretora do Centro de Estudos Norte-Americanos na Universidade Nacional Autônoma do México (Unam).
"Uma das coisas que me preocupa sobre os três não é somente a capacidade deles de se comunicar com os seus cidadãos. Mas também tenho visto a popularidade de Barack Obama cair. Os EUA estão diante de eleições legislativas, então ali tudo gira agora em torno da política. E no Canadá, eles deverão ter eleições em 2015, e a situação no cenário doméstico não é muito fácil", explica Nuñez.
Ela lembra, ainda, que no México o presidente Enrique Peña Nieto vem tentando fazer o melhor em termos de obter reformas, que são consideradas avanços. Mas o conteúdo delas está sendo discutido, e há uma grande quantidade de pessoas que se opõem à reforma do setor energético. Assim, resume, "nenhum dos três está na melhor situação".
Cada um dos três países possui um cenário de política interna diferente, o que vai pressionar e dar destaque a diferentes pontos nos objetivos, na ênfase da agenda e nos resultados do encontro de cúpula.
Festa mexicana?
Segundo Nuñez, desta vez três fatores estão a favor do México. Além de ser o anfitrião do encontro, o país se desenvolveu como um pivô na parceria do Nafta e está comemorando, atualmente, 70 anos de relações diplomáticas com o Canadá.
"Minha esperança é que os mexicanos sejam capazes de reconhecer essa situação e vejam isso como uma grande oportunidade", diz. Ainda que Nuñez reconheça o tema do Nafta, o acordo não é mais tão popular, nem nos EUA nem no Canadá, 20 anos após a sua criação.
"Para mim, este é um dos aspectos mais interessantes que vão determinar o que está por vir. Temos falado sobre o Nafta e o comércio. Então o que é preciso para a região em termos de aproximação, se realmente quisermos nos tornar uma região forte? Eles salientaram a prosperidade. Este conceito será um dos pontos de partida para as discussões que eles vão ter", afirma.
A energia é um tema central, mas o México ainda vai ter muito que fazer para alcançar a paridade nesse setor. Um desenvolvimento recente e importante envolve a votação do Congresso mexicano abrindo a indústria do petróleo pela primeira vez em 75 anos. A partir de agora, o investimento e a exploração serão permitidos e deverão gerar belos lucros, de acordo com Elizabeth Gutierrez Romero, especialista da Unam.
"Acho que esta reforma nos deu muitas expectativas. Grandes companhias estão muito interessadas no setor petrolífero. Mas acho que o presidente Peña Nieto quer falar mais sobre o comércio e o compromisso de sua administração em seguir a sua base econômica e em abrir novos mercados, embora eu esteja convencida de que há muitas pessoas trabalhando sobre o tema de investimentos na indústria do petróleo."
TTIP ou TPP?
Nesse meio-tempo, foram feitas propostas de que a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) – com o objetivo de impulsionar o crescimento econômico nos EUA e na União Europeia (UE), criando potencialmente 13 milhões de novos empregos – também poderá se impor e dominar a Parceria Transpacífica (TPP), da qual fazem parte os três países da América do Norte e as principais economias asiáticas.
No entanto, Elizabeth Gutierrez diz não ver a coisa dessa forma. "O que eu sei é que a Parceria Transpacífica é uma grande oportunidade para os EUA e para esta região porque existem muitos países asiáticos dinâmicos. Houve um grande aumento nas exportações americanas para a região. Não somente de bens e investimentos, mas também dos serviços."
Gutierrez prefere ver o lado positivo da questão, afirmando que esses dois diferentes acordos devem ser encarados em termos de benefícios múltiplos e sobrepostos: "Por que não fechar diversos acordos de comércio? O que se pode esperar é que haja muitos acordos e que eles sejam complementares."
As duas especialistas tentaram dar uma interpretação positiva sobre o melhor cenário que poderia sair desse breve encontro na fria Toluca, cidade mexicana localizada em grande altitude.
"Eu gostaria de saber do conteúdo e de algumas ações relacionadas à prosperidade. No momento, não temos uma imagem clara. Estou muito otimista de que venhamos a ter dois ou três novos cenários desafiadores para a região. Seria sábio se eles chegassem a questões relacionadas a que tipo de instituições são necessárias para fazer a região avançar com vista a uma melhor integração. Sabemos que essa é uma das lacunas que herdamos do Nafta", diz Silvia Nuñez.
Gutierrez diz, por sua vez, que um esforço combinado poderia trazer resultados positivos: "O que eles devem apresentar é uma compreensão de grupo com vista ao progresso. Acho que isso poderia ser uma boa ambição para os três países e para a região tentar resolver seus problemas. Seria ótimo se eles viessem a mostrar isso."