"Grande Hotel Budapeste" abre Berlinale
6 de fevereiro de 2014Uma alucinante comédia construída com elementos europeus e termômetros marcando surpreendentes 10ºC para um inverno alemão marcaram nesta quinta-feira (06/02) o início do 64º Festival de Berlim.
Com um grande elenco, ambientação europeia, brilhante direção de arte e ritmo de desenho animado, a comédia O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, teve sua estreia mundial nesta noite na capital alemã.
É a segunda vez que Anderson concorre ao Urso de Ouro. Em 2005, A Vida Marinha com Steve Zissou fez parte da seleção oficial do festival. Outra veterana no festival é Tilda Swinton.
"A Berlinale é um lugar precioso para mim. Vim aqui com Caravaggio, meu primeiro filme e foi também meu primeiro festival, o que selou minha relação com o cinema. É o lugar onde eu recarrego minha bateria cinematográfica", disse a atriz, que faz um pequeno, porém marcante papel na trama de Anderson.
A estreia do filme também marcou a apresentação do júri, presidido pelo produtor e roteirista James Schamus, responsável por trazer grandes nomes do cinema independente para o estrelato. Ele trabalhou, por exemplo, com Ang Lee, Sophia Copolla e Todd Haynes.
Além de Schamus, o júri deste ano contra com a produtora dos filmes de James Bond Barbara Broccoli; a atriz dinamarquesa Trine Dyrholm; a diretora iraniana Mitra Farahani; a estrela de Frances Ha Greta Gerwig; o diretor Michel Gondry; o ator chinês Tony Leung; e o duplamente vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante Christoph Waltz.
Comédia americana, clima europeu
Buscando um personagem com grande apreço pelas palavras e uma maneira única e de ver a vida, o diretor e roteirista recria as aventuras do concierge Gustave H. e de Zero Moustafa, mensageiro que se torna seu inseparável amigo. Os dois trabalham em uma fictícia cidade alpina no leste europeu durante a década de 1930, no famoso Hotel Budapeste.
O Grande Hotel Budapestefoi livremente inspirado nos livros de Stefan Zweig. O escritor de Brasil, o país do futuro se exilou no país no começo da década de 1940 e se suicidou em Petrópolis em 1942.
"Zweig não é popular em inglês. As pessoas em Europa ficam surpresas que ele é desconhecido na America. Eu me apaixonei desde a primeira vez que li. Minha história não é baseada especificamente em nenhuma de suas histórias, mas em sua atmosfera. Queria fazer minha própria versão de Zweig", disse o diretor durante a coletiva de imprensa.
Para muitos, Wes Anderson é um grandioso cronista americano que constrói intrínsecas narrativas com extravagantes personagens. Para outros, os filmes do diretor não passam de um amontoado de estilo com muito pouco a dizer. Mas o que não se pode negar é que o trabalho do cineasta encanta muitos atores renomados.
"Em seus filmes vemos as coisas de uma maneira mágica. Ele transforma seus sonhos em realidade. Apesar das longas horas de trabalho e do baixo salário, aceitamos fazer seus filmes porque gostamos dele", disse nesta quinta-feira Bill Murray, um dos maiores colaboradores de Anderson.
Envolto em uma história de crime e mistério, Anderson usa seu estilo com personagens excêntricos e bela direção de arte a seu favor. No final do filme, Zero descreve Gustave como um homem que vivia com ilusão e graça em um tempo que já não existia mais. Uma sensação presente em todo o filme de Anderson.
Dinâmicas do cinema
Mas o destino de O Grande Hotel Budapeste e dos outros 20 filmes em competição, entre eles o brasileiro A Praia do Futuro, de Karim Aïnouz, está na mão dos membros do júri, que fugiu de especulações durante a entrevista coletiva oficial.
Para Christoph Waltz, que já esteve no júri em Cannes, há duas grandes diferenças entre os dois mais prestigiosos festivais de cinema do mundo. "A praia e a comida, que é melhor na França", brincou o austríaco.
Já o presidente do júri afirmou que a experiência de ir ao cinema não tem diminuído com o aumento da pirataria e serviços que transmitem filmes via internet. "Sete salas de cinema são construídas por dia na China, para um público cada vez mais jovem. A dinâmica e estética do cinema estão em constante transformação. A importância de um festival como o de Berlim está no intercâmbio, não só de ideias, mas de experiências", afirmou Schamus.
A recente polêmica em torno das acusações feitas por Dylan Farrow contra seu ex-padrasto Woody Allen trouxe à tona a discussão sobre o papel da vida privada do artista em relação a sua obra. "Eu acredito que as decisões morais e éticas já foram feitas pelo comitê que selecionou os filmes", disse o presidente do júri.
O festival também anunciou a exibição especial de filmes com o ator Philip Seymour Hoffman, morto no último domingo vítima de uma overdose de heroína. “Ele será lembrado por muitos amigos que estarão no festival. Em lugares como Berlim, temos a oportunidade de relembrar e celebrar. Ele estará aqui conosco”, disse Schamus.