Distantes da Guerra Fria
10 de julho de 2010À primeira vista, o caso dos agentes russos e norte-americanos lembra os tempos da Guerra Fria: na noite desta sexta-feira (09/07), Estados Unidos e Rússia reiniciaram – pela primeira vez desde 1986 – uma ampla troca de agentes secretos. Após pretensos quase dez anos de vigilância, os dez espiões russos foram presos somente há poucos dias nos Estados Unidos.
Mas a impressão engana: essa troca de agentes não é sinal da volta da Guerra Fria entre EUA e Rússia. A revelação da rede de espionagem russa nos Estados Unidos também não irá piorar as relações entre os dois países.
Pelo contrário: o momento da descoberta do grupo de agentes russos não deve ter sido nenhuma coincidência. Se o grupo de agentes foi vigiado durante quase dez anos, então por trás da explicação oficial – poucos dias após a visita do presidente russo Dimitri Medvedev ao presidente Barack Obama – está um plano calculado.
Obama reinicia relações
A política para a Rússia do presidente Obama não procura – diferentemente de seu antecessor George W. Bush – isolar ou diminuir a importância de Moscou, mas sim, apesar de todas as diferenças, se aproximar da antiga superpotência.
Graças a interesses comuns em algumas questões internacionais, como por exemplo o desarmamento nuclear, é aconselhável, na percepção de Obama, o estabelecimento de uma parceria com a Rússia, o que também deverá fomentar outros objetivos da política externa norte-americana. Os Estados Unidos esperam mais apoio da Rússia, particularmente, na missão no Afeganistão e na inibição das armas nucleares iranianas.
Caracterizada pelo slogan "Reinício das relações russo-norte-americanas", a política norte-americana para a Rússia teve bastante êxito já no primeiro ano de mandato de Obama, como mostraram o acordo de desarmamento de armas estratégicas que sucedeu ao Start e uma linha mais dura da Rússia diante do Irã.
A nova política norte-americana encontra uma melhor receptividade no Kremlin, também porque as lideranças russas em torno do presidente Medvedev e do primeiro-ministro Putin compreenderam, desde a crise financeira global, que somente com a ajuda das nações ocidentais podem modernizar e integrar o país na economia mundial. Para a política externa russa, os investimentos norte-americanos no país e, principalmente, o apoio de Obama para a admissão da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC) são de grande importância.
Limpar o ar
O atual caso dos agentes secretos deve ser observado no contexto desse novo direcionamento estratégico das relações russo-norte-americanas. Pois, com a revelação de uma extensa rede de agentes russos nos EUA e a rápida troca de espiões é dado um sinal claro de reinício, também na delicada área do serviço secreto. Os Estados Unidos desfizeram os esforços de espionagem de mais de dez anos do serviço secreto russo e irão agora esperar que as atividades de espionagem nos EUA não sejam retomadas nas mesmas proporções.
De fato, não se pode esperar que a Rússia pare com todas as suas atividades de espionagem nos Estados Unidos. Até mesmo na Alemanha, é forte o engajamento do serviço secreto russo, segundo relatório do Departamento de Proteção à Constituição – apesar das boas relações entre os dois países.
O presidente Medvedev irá, com certeza, compreender o sinal de reinício do caso dos agentes secretos, de forma que se possa dar procedimento aos trabalhos em uma nova parceria entre russos e norte-americanos.
Autor: Ingo Mannteufel (ca)
Revisão: Nádia Pontes