Partido de Haider tem sucesso na ação popular contra Temelin
22 de janeiro de 2002A usina fica localizada a 50 quilômetros da fronteira austríaca e está servindo de instrumento para mobilizar a opinião pública e os políticos. A proposta do Partido Liberal da Áustria(FPÖ) de instigar a participação popular na questão da usina atômica de Temelin, tem como objetivo conseguir que a Áustria se posicione contra a entrada da República Tcheca na União Européia, caso o complexo não seja desativado.
Justamente por isso, os radicais de direita comemoraram nesta terça-feira (22) o sucesso da ação popular iniciada no último dia 14. O abaixo-assinado coletou 915.220 assinaturas, muito mais do que o mínimo necessário de 100 mil assinaturas, para que o tema seja levado à votação no Parlamento.
Vontade do povo
A líder do Partido Liberal da Áustria (FPÖ), Susanne Riess-Passer, declarou que a adesão de cerca de 15,5% do eleitorado austríaco denota a vontade do povo de que Temelin volte a ser debatido na esfera política: "É tarefa de todos os partidos fazer com que a usina de Temelin seja desativada. Quem não levar o resultado da ação popular a sério deve se responsabilizar por isso perante seus eleitores e sua consciência."
O chanceler federal da Áustria, Wolfgang Schüssel, admitiu que é preciso levar a sério a opinião dos que assinaram e dos que não assinaram o documento. Sua posição perante o assunto continua sendo a mesma: ele rejeita que o país faça uso do veto contra a entrada da República Tcheca na UE, como forma de pressionar o país vizinho a desativar uma usina atômica.
Há meses a usina tem sido tema de atritos entre Praga e Viena. O complexo atômico foi construído com reatores nucleares russos. Após uma série de panes, Temelin ainda se encontra em fase de testes. A previsão do governo tcheco é de que a usina entre em funcionamento ainda este ano.
Assunto adiado
O Parlamento austríaco provavelmente só tratará do tema no segundo semestre do ano. Outros passos só deverão ser tomados após a eleição na República Tcheca, em junho deste ano. Atualmente o diálogo entre o Partido Liberal e o primeiro-ministro tcheco, Milos Zeman, está definitivamente abalado. Durante uma troca de insultos verbais, Zeman classificou Jörg Haider, líder populista de extrema-direita, de "político nazista". Haider, por sua vez, afirmou que "o sr. Zeman mostrou finalmente a sua cara".
Coalizão não está comprometida
A coalizão de governo da Áustria entre o conservador Partido Popular (ÖVP), do chanceler Wolfgang Schüssel, e os populistas de direita do Partido Liberal (FPÖ), liderados por Haider, não está ameaçada de rompimento, conforme frisaram os dois partidos.
Haider classificou a situação do governo perante o sucesso da ação popular de "nada fácil", mas afirmou que "as duas partes estão bem assessoradas para levar o resultado a sério e procurar uma saída conjunta".
Não é ameaça
O governo tcheco não acredita que o resultado do abaixo-assinado possa realmente ameaçar a entrada do país na UE. Um porta-voz do governo comentou o resultado da coleta de assinaturas dizendo que se trata de uma prova do fracasso do FPÖ e de Haider, já que a adesão de 15,5% do eleitorado é bem inferior à cota de 27% dos votos angariados pelo Partido Liberal nas eleições de 1999.
Ação de expressão
A participação de mais de 900 mil cidadãos austríacos em um documento que forçará o debate de um tema no Parlamento é a terceira maior na história do país. Apenas duas outras ações populares mobilizaram mais pessoas que a de Temelin. Tanto o abaixo-assinado contra a construção de um centro de conferências em Viena, quanto o que rejeitou a engenharia genética reuniram mais de um milhão de assinaturas.