Preconceitos entre alemães persistem mesmo após 23 anos de reunificação
3 de outubro de 2013De 1961 a 1989, os cidadãos da Alemanha Oriental estiveram literalmente murados, confinados ao território ocupado pela antiga União Soviética após a Segunda Guerra Mundial, de onde era praticamente impossível escapar. A República Democrática Alemã (RDA) deveria ser um país onde o socialismo fosse vivido. Porém, no fim da década de 80, ficou comprovado o fracasso do experimento.
Quando a fronteira entre as duas partes do país foi aberta, em 1989, multidões de alemães orientais acorreram para a ocidental República Federal da Alemanha (RFA). Eles queriam aproveitar a liberdade, viajar e, finalmente, poder comprar o que não havia na RDA.
Desapareceu de cena a roupa que imediatamente identificava os alemães orientais – sapatos cinza-claro, jaquetas de plástico ou malhas de jogging confeccionadas com seda de paraquedas. Também os penteados se modificaram: os permanentes montados com secador deram lugar a cortes modernos.
Logo os "ossis" (apelido um tanto pejorativo para os Ostdeutsche – alemães orientais) não se distinguiam mais exteriormente dos compatriotas do oeste. No entanto, lá no fundo, as diferenças seguiam existindo, e os preconceitos de ambos os lados permaneceram.
Preconceitos do leste
"Eles são arrogantes, sempre fixados no dinheiro, burocráticos e superficiais": assim Thomas Petersen, do Instituto de Demografia Allensbach, resume a opinião que muitos alemães orientais têm, ainda hoje, sobre os do oeste. Segundo uma pesquisa de opinião realizada em 2012, os alemães do leste têm mais preconceitos em relação aos do oeste do que vice-versa. Além disso, o Instituto Forsa, de pesquisa social, constatou que ambos ainda não se veem como um único povo.
Os alemães orientais até mesmo se sentem como "cidadãos de segunda classe", diz o sociólogo Andreas Zick, da Universidade de Bielefeld. Seus estudos mostraram que muitos consideram discriminatórias as condições de vida no oeste do país.
Embora quase todas as ruas e casas da antiga RDA tenham sido modernizadas e a infraestrutura hoje seja de ponta, os salários da região ainda se encontram cerca de 20% abaixo do nível do oeste, e as aposentadorias são 10% mais baixas.
Do ponto de vista dos pesquisadores econômicos isso se deve, entre outros fatores, ao tipo de empresas existentes na Alemanha Oriental, que muitas vezes são fornecedoras para empresas no oeste. Assim, são raras as centrais empresariais com postos altamente assalariados. Mesmo as centenas de bilhões de euros empregados em subsídios não conseguiram mudar essa tendência. "A decepção é grande", afirma Andreas Zick.
Preconceitos do oeste
Embora não usem mais a denominação "ossi" com tanta frequência, os alemães ocidentais ainda cultivam clichês em relação aos ex-cidadãos da RDA. Eles os consideram insatisfeitos, desconfiados e temerosos, de acordo com pesquisas dos principais institutos do país. Apenas 43% dos "wessis" associam os do leste com qualidades como "dispostos ao trabalho" ou "flexíveis".
A maioria dos ocidentais deseja o fim mais breve possível da imposto extra, intitulado "de solidariedade" (Solidaritätszuschlag), introduzido para financiar a unificação nacional e o reerguimento das regiões pertencentes à extinta RDA.
No entanto, ao se caracterizarem como eternos financiadores de seus irmãos do leste, eles se esquecem que estes também pagam a taxa de solidariedade. O fato, em si, demonstra que a unificação ainda não se completou nas cabeças dos alemães.
Questão de espaço e tempo
"Entre 'ossis' e 'wessis', são simplesmente muito poucas as amizades, não há tantos contatos e relacionamentos quanto seria de desejar", comenta o sociólogo Andreas Zick a respeito do abismo entre as duas visões de mundo.
O demógrafo Thomas Petersen ressalva, porém, que o fato não deve ser interpretado como desinteresse mútuo. "A Alemanha Ocidental é simplesmente quatro vezes maior do que o leste", e as distâncias são, em grande parte, a razão porque as pessoas não se encontram com mais frequência, a fim de se conhecer.
Mas, no fim das contas, tudo é também uma questão de tempo, afirma: "A parcela dos que veem mais diferenças do que semelhanças entre a Alemanha Oriental e Ocidental vem caindo continuamente nos últimos anos". Zick acrescenta: "A segunda e terceira gerações depois da unificação são muito mais otimistas e registram mais equivalência entre o leste e o oeste".
Muitos jovens adultos de hoje em dia nunca vivenciaram o Muro de Berlim e a divisão do país. Assim, ao contrário das enquetes realizadas 10 ou 15 anos atrás, o tom agressivo praticamente sumiu das opiniões expressas.
Os pesquisadores também não se arriscam a predizer quando – ou se – as diferenças desaparecerão inteiramente das cabeças dos alemães. Mas ao menos num ponto a maioria dos "ossis" e "wessis" sempre estiveram de acordo: a reunificação do país, sob o signo da liberdade e da democracia, é um motivo de alegria.